
Na semana passada foi publicada uma entrevista do Papa Francisco à agência de notícias Associated Press. Dos vários assuntos tratados, o Santo Padre respondeu também a perguntas sobre o tema dos abusos sexuais por parte de membros do clero.
Sobre o caso de D. Ximenes Belo, o Papa assinalou ser “um caso muito antigo, quando não existia a consciência de hoje”. Relativamente à revelação recente dos casos de abusos que envolveram o sacerdote jesuíta Marko Ivan Rupnik, Francisco revelou ter sido para si “uma grande surpresa e uma ferida”.
O Papa recordou nesta entrevista a sua experiência pessoal, a propósito do reconhecimento do problema dos abusos sexuais na Igreja. Realçou a dificuldade que teve em aceitar a realidade no Chile aquando da sua visita apostólica em janeiro de 2018.
“Eu não conseguia acreditar”, declarou o Santo Padre. “Tive de acordar e reconhecer que havia encobrimento”, sublinhou o Papa. “Foi quando vi a corrupção de muitos bispos envolvidos nisso”, frisou.
Recordemos que foi na sequência da viagem ao Chile que o Papa Francisco decidiu mandar investigar em profundidade a situação dos abusos sexuais por parte do clero naquele país.
Essa investigação foi entregue a dois enviados especiais que produziram um relatório com mais de 2300 páginas com data de 20 de março de 2018. Um trabalho que passou pela escuta de 64 testemunhas em Nova Iorque e Santiago do Chile.
Foram muitas as consequências desta investigação no Chile, que passaram, em particular, pela renúncia e substituição de bispos. Em junho desse mesmo ano de 2018 a Conferência Episcopal do Chile publicou uma carta do Papa Francisco à comunidade católica do país, na qual se pedia o fim de uma “cultura do abuso e do encobrimento”.
É neste espírito de humilde reconhecimento da realidade que foi criada em Portugal a Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja em Portugal. O relatório final desta comissão será divulgado em conferência de imprensa no próximo dia 13 de fevereiro.
Neste âmbito, decorreram nos passados dias 21 e 28 de janeiro, promovidas pela diocese do Porto e dirigidas aos agentes pastorais, ações de formação e sensibilização para o cuidado dos menores e frágeis.
RS