Na Missa de sufrágio por Bento XVI, no dia 5 de janeiro na Catedral do Porto, D. Manuel Linda sublinhou a “limpidez” do pensamento do Papa emérito falecido a 31 de dezembro de 2022 e cujas exéquias foram celebradas na manhã de quinta-feira 5 de janeiro. Destacamos a presença dos bispos auxiliares D. Pio Alves e D. Vitorino Soares e do nomeado bispo de Angra, D. Armando Domingues, ex-bispo auxiliar do Porto. Presentes também o bispo emérito de Setúbal D. Gilberto Reis e o bispo auxiliar emérito do Porto, D. António Taipa.
O bispo do Porto lembrou Bento XVI citando dois célebres discursos: em Colónia em 2005 e em Paris em 2008. Da Vigília da Jornada Mundial da Juventude em Colónia, D. Manuel Linda citou as palavras de Bento de XVI nas quais “com a argúcia de pensamento que o caraterizava, explorou a afirmação central de que a verdadeira revolução, aquilo que mais interessa ao mundo e o edifica, vem dos santos”, assinalou.
Disse o Papa Bento nessa ocasião, em início de pontificado, citado pelo bispo do Porto na sua homilia: “Dissemos que os santos são os verdadeiros reformadores. Agora gostaria de o expressar de modo mais radical: só dos Santos, só de Deus provém a verdadeira revolução, a mudança decisiva do mundo. No século que há pouco terminou vivemos as revoluções, cujo programa comum era não aguardar mais a intervenção de Deus, mas assumir totalmente nas próprias mãos o destino do mundo. Com isto, vimos que era sempre um ponto de vista humano e parcial a ser tomado como medida absoluta da orientação. A absolutização do que não é absoluto, mas relativo chama-se totalitarismo. Não liberta o homem, mas priva-o da sua dignidade e escraviza-o. Não são as ideologias que salvam o mundo, mas unicamente dirigir-se ao Deus vivo, que é o nosso criador, a garantia da nossa liberdade, a garantia do que é deveras bom e verdadeiro. A verdadeira revolução consiste unicamente em dirigir-se sem reservas a Deus, que é a medida do que é justo e ao mesmo tempo é o amor eterno. E o que nos pode salvar a não ser o amor?”.
Mais adiante na sua reflexão, D. Manuel Linda, lembrou a visita de Bento XVI a Paris em 2008 e o seu famoso discurso no Colégio dos Bernardinos, lugar histórico, edificado pelos filhos de São Bernardo de Claraval, onde funciona um centro de diálogo entre o cristianismo e as correntes culturais, intelectuais e artísticas da sociedade atual.
Na ocasião o Papa emérito disse o seguinte, na citação escolhida pelo bispo do Porto: “O esquema fundamental do anúncio cristão “para o exterior” – para os homens que, com suas perguntas andam à procura – acha-se no discurso de São Paulo no Areópago. […] Paulo não anuncia deuses desconhecidos. Anuncia Aquele que os homens ignoram. […] Quaerere Deum – buscar a Deus e deixar-se encontrar por Ele: isto, hoje, não é menos necessário do que em tempos passados. Uma cultura meramente positivista que relegasse para o âmbito subjetivo, como não científica, a pergunta acerca de Deus, seria a capitulação da razão, a renúncia às suas possibilidades mais elevadas e, portanto, o descalabro do humanismo, cujas consequências não deixariam de ser graves. O que fundamentou a cultura da Europa, a procura de Deus e a disponibilidade para O escutar, permanece também hoje o fundamento de toda a verdadeira cultura”.
“Devemos a Bento XVI a limpidez deste pensamento”, disse D. Manuel Linda na conclusão da sua homilia, acentuando que “a condição cristã jamais se pode afastar das balizas que a demarcam: o amor a Deus e aos irmãos e o anúncio social, livre e gozoso, de que Deus constitui a resposta para as nossas maiores interrogações e questionamentos e só n’Ele o mundo encontra a razão do seu existir”.
RS