Há cinquenta anos nascia no Brasil o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), para que se “Vivendo com as diferentes culturas na perspetiva do Bem Viver”, ultrapasse a Memória colonial, tendo presente a Resistência dos povos indígenas e a Esperança de caminhar solidariamente com todos os povos e comunidades, “almejando a construção de outra sociedade, inspirada na visão real e utópica das sociedades indígenas”. Nascido após o Vaticano II, sendo “filho” deste, anexo à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nasce dentro da “ditadura militar” que ontem, como nos últimos anos o governo, visava o extermínio e a integração compulsória como destino para os povos indígenas”, e por isso mesmo foi criado e tem atuado com uma “pastoral em defesa destes povos”. O Cimi no seu manifesto de comemoração pede “perdão aos povos indígenas pelos pecados da colonização da qual” se sentem participantes ao longo de mais de 500 anos, agradecendo “aos povos originários a graça pascal de acompanhar suas incansáveis lutas, sustentadas nas ancestralidades e na certeza de que há outros mundos possíveis. A esperança que se renova em cada luta, em cada movimento, em cada ato de resistência dos povos e comunidades indígenas é facho de luz, que ilumina e orienta a nossa missão:”
As lutas dos povos indígenas pelas “suas identidades” que vinculam os seus “projetos de vida, inscrevem com tintas suas ancestralidades nos corpos”, uma mística que “também a nossa fé no Deus da Vida é uma instância crítica que inspira horizontes de libertação e razões de esperança. A nossa mística é militante.” Ela sustenta a “nossa militância e nos permite sonhar a socialização de todos os latifúndios – o latifúndio da terra, do capital e do saber – e replantar os sonhos dos povos indígenas e dos pobres nas rachaduras do sistema.” Porque o Cimi nunca deixou de estar ao lado dos indígenas, quer no “silêncio e solidão” da ditadura militar, quer na denúncia dos atos graves praticados pelo governo, ainda em posse.
É uma certeza para nós que o Cimi não confunde “Viver Bem” com o “Bem Viver”, uma diferença fundamental para todos os que estão nesta caminhada de anunciar o Evangelho de Jesus. Um “caminhar coletivo, para assumir nossas fragilidades, para reconhecer os desafios do tempo futuro.” É um caminhar ecuménico sinodal, escutando em todo o tempo as vozes que saem da “sarça ardente”, numa confiança e Esperança num futuro, em que dediquem “tempo para os abraços, os afetos e os sorrisos”, “hoje como há 50 anos, esperançar é ato revolucionário e profissão de fé”. Seja no Brasil ou em Portugal!