
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
A liturgia do domingo que estamos para celebrar – o 3º do Advento – é percorrida do princípio ao fim pelo convite à alegria. O mote é dado pelo Cântico de Entrada da Missa: «alegrai-vos sempre no Senhor!» – Gaudete – (cf. Fil 4, 4). A Oração Coleta retoma-o: «fazei-nos chegar às solenidades da nossa salvação e celebrá-las com renovada alegria». E esse é o tom da Liturgia da Palavra nos 3 ciclos: «Alegre-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida…» (Ano A, toda a 1ª leitura, Is 35, 1 ss); «Exulto de alegria no Senhor e minha alma rejubila no meu Deus» (Ano B, 1ª leitura, Is 61, 10-11), «a minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador (Ano B, Salmo Responsorial – o Magnificat ); Vivei sempre alegres… (Ano B, 2ª leitura, 1 Tes 5, 16 ss); «Clama jubilosamente, filha de Sião, solta brados de alegria…, exulta, rejubila…» (Ano C, 1ª leitura, Sof 3, 14ss); «Exultai de alegria porque é grande no meio de vós o Santo de Israel» (Ano C, Salmo Responsorial, Is 12); Alegrai-vos sempre no Senhor, novamente vos digo: alegrai-vos» (Ano C, 2ª leitura, Fil 4, 4-7).
A Liturgia recorre a outros sinais para realçar essa mensagem jubilosa: a cor dos paramentos pode abrir-se do roxo habitual no Advento a tons de rosa. Tradicionalmente, a sobriedade e moderação recomendada para a ornamentação do altar (cf. IGMR 305) e para o uso do órgão de tubos e outros instrumentos (Ibid. 313) é também atenuada neste «Domingo da alegria» em que se sente a proximidade do Natal. Porque o motivo da alegria é precisamente esse: «o Senhor está próximo».
Vivemos numa cultura secularizada em que o Natal se tornou uma «marca» a explorar com a promoção desenfreada do consumo e o seu apelo ao gozo resultante da satisfação de necessidades aparentes. Um cocktail de ternos sentimentos, música de encantamento, filmes de animação, espetáculos de circo com trapezistas e palhaços, prendas e mais prendas, tudo à mistura com campanhas de solidariedade em que quem mais ganha e ganha sempre são as grandes superfícies comerciais… tudo isso e mais ainda provoca a uma embriaguez coletiva com aparências de alegria espalhafatosa e postiça que chega a ser deprimente e provoca sempre ressacas e alergias. No contexto social em que vivemos, com largos sectores da nossa população no limiar da pura sobrevivência e, portanto, impedidos de satisfazer a geral avidez consumista, esse simulacro de alegria parece estar irremediavelmente comprometido. Neste contexto torna-se mais urgente e necessário proclamar o Evangelho da alegria e viver a alegria do Evangelho. Só o Natal da fé nos pode motivar o sorriso genuíno e a alegria íntima e ao mesmo tempo partilhada.
Convidamos, por isso, a centrar o Natal em Jesus: «Abraça o Presente!» Haverá prendas? Mas o «Presente» maior que dilata o nosso coração de gozo, é comum a todos: «nasceu-nos um Menino! Foi-nos dado um Filho…», um Irmão: Deus fez-se homem para que o homem possa redescobrir a sua dignidade e a altura divina da sua vocação! Se, no Natal, é costume trocar outras prendas é apenas porque o bem é difusivo e multiplicativo: quem se sabe prendado quer prendar, quem se sabe doado sabe doar e per-doar. Mas Jesus é sempre o Dom principal e, finalmente, o único que nunca falta: a pobres e ricos, a grandes e pequenos, a meninos e anciãos. E, muita atenção: porque havemos de reduzir o dom e a lógica do dom apenas a coisas e objetos? Porque não havemos também de valorizar como dom gestos, visitas, sorrisos, tempo partilhado, jogos comparticipados, afetos manifestados? Acontece, por vezes, que o progenitor que mais negligencia o filho é o que lhe dá o presente mais caro… Como é diferente a lógica do Natal de Jesus! E como é diversa a sua alegria!
Centrado em Jesus, o Natal há de ter em nossas casas a sua representação própria: o presépio. Com mil figurinhas como os de Teixeira Lopes, ou com as figuras essenciais, focado na Sagrada Família e em Jesus Menino. Com criatividade e imaginação nem sequer é preciso fazer despesas especiais para o preparar e decorar. Sobretudo, que não seja mero adorno porque deverá ser centro: ocasião para fazer aos mais novos o relato da história mais admirável e despertar neles genuínos sentimentos de fé e piedade, lugar de anúncio e de oração familiar.