
Por Joaquim Armindo
Na sua recente deslocação ao Bahrein, o bispo de Roma e papa Francisco num dos seus discursos enfatizou a “água vital” da variedade étnica e cultural deste país. Diz ele: “Aqui, onde as águas do mar circundam as areias do deserto e imponentes arranha-céus se erguem ao lado dos tradicionais mercados orientais, cruzam-se realidades muito diferentes: convergem antiguidade e modernidade, fundem-se história e progresso, e sobretudo pessoas da mais variada proveniência formam um original mosaico de vida. (…) Trata-se duma majestosa acácia, que, há séculos, sobrevive numa zona deserta, onde a chuva é muito escassa.” E contrariamente a esta “água vital” falou sobre a “indiferença”: “Está aqui a água vital, aonde vão ainda hoje beber as raízes do Bahrein, cuja maior riqueza se vê na sua variedade étnica e cultural, na convivência pacífica e no tradicional acolhimento da população. Uma diversidade, não homogeneizadora, mas inclusiva constitui o tesouro de qualquer país verdadeiramente evoluído. E, nestas ilhas, pode-se admirar uma sociedade mista, multiétnica e multirreligiosa, que foi capaz de superar o perigo do isolamento. (…) Pelo contrário, assistimos, preocupados, ao crescimento em larga escala da indiferença e mútua suspeita, à extensão de rivalidades e contraposições que se esperavam superadas, a populismos, extremismos e imperialismos que põem em perigo a segurança de todos. Não obstante o progresso e tantas conquistas civis e científicas, aumenta a distância cultural entre as várias partes do mundo e, às benéficas oportunidades de encontro, antepõem-se perversas atitudes de conflito.”
Conflitua assim a “árvore da vida” – símbolo do Bahrein -, que é sinónimo da convivência humana, da inclusão, da fraternidade, do encontro das religiões, civilizações e culturas, semeadoras da paz e da amizade, com a indiferença que os populismos, chamem-se com variados nomes de cada país, fomentam, trazendo aos países os ódios pelas diversidades de cada pessoa e de cada país.
Para a defesa da dignidade humana, que Deus criou, não poderá existir discriminação “alguma com base no sexo, na proveniência, na língua, na religião ou no credo” porque a “liberdade de consciência é absoluta” e nem sequer os “ecossistemas devastados”, o que o “popularismo” não dissimula, ao não querer a vida, alimentada pela “água vital”, mas a guerra e as armas, a fome em vez da partilha, o ódio em vez do amor. Isto encontra-se em cada esquina das nossas vidas – agora, digo eu -, quando nos deparamos por tantos episódios onde, até na própria igreja de Jesus, se refletem os espíritos dos poderes, cerceando as capacitadoras forças vitais que encontramos no amor e misericórdia intencional do menino pobre nascido em Nazaré.