O discurso de terça-feira (08/11) do Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin na COP27 de Sharm-el-Sheikh, no Egito, se concentrou na interconexão entre mudanças climáticas, abastecimento de água e alimentos, pobreza e migração. A advertência que, em nome do Papa Francisco, o cardeal traz à cúpula internacional é que é necessário aproveitar esta oportunidade adicional para “abordar seriamente” os quatro pilares do Acordo de Paris: mitigação, adaptação, finanças e perdas e danos. Pilares que, observa, são “uma questão de equidade e de justiça”.
O compromisso da Santa Sé de alcançar emissões zero até 2050
Na XXVII Sessão da Conferência das Partes – a primeira em que a Santa Sé participa como Estado Parte tanto da Convenção como do Acordo de Paris – o Secretário de Estado repetiu o desejo do Papa no Bahrein: que a COP27 seja um passo adiante para “escolhas concretas e clarividentes, pensada para as gerações mais jovens, antes que seja tarde demais e seu futuro seja comprometido”. E também recorda do anúncio do Pontífice em 2020 de que a Santa Sé se comprometeria com a meta de emissões zero até 2050, respondendo em dois níveis, intensificando os esforços para melhorar sua gestão ambiental e promovendo a educação sobre a ecologia integral. “De fato”, prossegue, “medidas políticas, técnicas e operacionais não são suficientes, mas devem ser combinadas com uma abordagem educacional que promova novos estilos de vida, promovendo um modelo renovado de desenvolvimento e sustentabilidade baseado no cuidado, fraternidade e cooperação”.
Estados devem aumentar a disponibilidade e a flexibilidade para a migração regular
O Cardeal Parolin falou de uma “crise socioecológica” com um tom de preocupação, mas também ressaltando que estamos vivendo “um momento propício para a conversão individual e coletiva e para decisões concretas que não podem mais ser adiadas”. Ele destacou: “Temos o dever moral de tomar medidas concretas para prevenir e responder aos impactos humanitários cada vez mais frequentes e graves causados pelas mudanças climáticas”. A referência é ao crescente fenômeno dos migrantes deslocados. O apelo é dirigido aos governos internacionais: mesmo quando os deslocados não têm acesso à proteção internacional, “os Estados não podem ignorar soluções tangíveis, inclusive nos setores da adaptação, da mitigação e da resiliência”. O foco está na importância de “reconhecer a migração como forma de adaptação”: daí a necessidade de aumentar a disponibilidade e a flexibilidade dos caminhos para a migração regular.
Devemos ser responsáveis, corajosos e com visão de futuro
O pensamento do Cardeal volta-se então para a pandemia da Covid-19 e os conflitos em todo o mundo que, adverte, “correm o risco de ameaçar a segurança global, agravar a insegurança alimentar, desestabilizar o multilateralismo e até mesmo ofuscar nossos esforços aqui em Sharm el-Sheikh”. O Secretário de Estado enfatiza ainda: “Não podemos permitir que isso aconteça. Países estruturados em blocos isolados e insustentáveis não ajudam a causa que permanece planetária, observa o Cardeal Parolin, que nos convida a aproveitar este momento para implantar a solidariedade internacional e intergeracional. “Devemos ser responsáveis, corajosos e clarividentes não somente para nós mesmos, mas também para os nossos filhos”. Recordando a mensagem enviada pelo Papa à COP-26 em Glasgow no ano passado – na qual as consequências das mudanças climáticas são comparadas àquelas resultantes de um conflito global – o Secretário de Estado insiste na urgência de que a vontade política seja guiada pelo entendimento de que ou ganhamos juntos ou perdemos juntos. A admissão é que o caminho para alcançar os objetivos do Acordo de Paris é complexo e que há cada vez menos tempo para corrigir a rota. A oportunidade desses dias de confronto também não deve ser desperdiçada nem mesmo em consideração aos aspectos não econômicos dos danos, tais como a perda de patrimônio e das culturas. Trata-se de algo não insignificante segundo o qual, afirma, temos muito a aprender com os povos indígenas.
Não ignorar a ligação direta entre crise alimentar e crise climática
Na Mesa Redonda de Alto Nível sobre “Segurança da Água”, o cardeal insistiu no fato de que a mudança climática coloca em risco os ciclos globais da água. O apelo aqui é que a segurança da água deve desempenhar um papel essencial nas políticas climáticas e ser incluída nas estratégias climáticas nacionais. O Cardeal Parolin também chamou a atenção para o fato de que a escassez de água e a poluição estão em ascensão e afetam as populações mais pobres. Como consequência, a desnutrição também está atingindo níveis muito sérios, especialmente para as crianças.
Novas abordagens integradas urgentes e compromissos reforçados
O Cardeal pediu que a segurança da água fosse incluída nas estratégias climáticas nacionais. A convicção é que há necessidade de mudanças na gestão da água, incluindo o uso equitativo dos recursos hídricos e uma distribuição mais inteligente da água para os sistemas alimentares. “São urgentemente necessárias novas abordagens integradas e esforços reforçados “, disse. As ações específicas propostas para enfrentar esses desafios incluem: melhorar a gestão da água na agricultura; harmonizar o compartilhamento da água e os direitos da água ao longo dos sistemas de água transfronteiriços, tornando-os bens da comunidade em vez de fontes de conflito; reduzir a perda e o desperdício de água e alimentos; abordar as desigualdades sociais nos vínculos água-nutrição e facilitar o acesso à “lavagem”; e melhorar a qualidade dos dados e o monitoramento dos vínculos água-sistema alimentar, tirando proveito das inovações tecnológicas.
Esses conceitos também foram expressos pelo Cardeal Parolin na Mesa Redonda sobre “Segurança Alimentar”. Também aqui foi destacada a profunda conexão entre fome mundial, guerras, crises climáticas, rupturas de mercado e desigualdade. Um ciclo vicioso que precisa ser quebrado urgentemente. As ações propostas diziam respeito à gestão sustentável da terra, diversificação da produção agrícola, empoderamento dos vulneráveis, proteção social promovida pela sociedade civil e comunidades religiosas. Uma outra boa prática a ser implementada mais é a redução dos resíduos alimentares e das emissões de gases de efeito estufa, assim como a inclusão dos sistemas alimentares no financiamento climático em escala.
(inf: Vatican News)