
O Papa Francisco na sua visita ao Barhein alertou para os “ventos de guerra” que ameaçam a humanidade:
“Encontramo-nos hoje perante dois mares de sabor oposto: por um lado, o mar calmo e doce da convivência comum; por outro, o mar amargo da indiferença, afligido por confrontos e agitado por ventos de guerra, com as suas devastadoras ondas cada vez mais tumultuosas, com o risco de nos arrastar a todos”, afirmou.
Falando nesta sexta-feira 4 de novembro, no encerramento do “Fórum do Barhein para o Diálogo: Oriente e Ocidente para a Coexistência Humana”, na Praça Al-Fida do Palácio Real de Sakhir, perante vários representantes cristãos e islâmicos, o Santo Padre condenou as tentativas de “imposição de modelos e visões despóticas, imperialistas, nacionalistas e populistas”.
No Barhein, Francisco foi recebido pelo Rei Hamad bin Isa bin Salman Al-Khalifa, e pelo grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, a quem se juntou para uma cerimónia simbólica, regando a ‘Árvore da Paz”.
No seu discurso, o Papa recordou as dificuldades da população mundial “atormentada por graves crises alimentares, ecológicas e pandémicas” enquanto “uns poucos poderosos concentram-se decididamente numa luta por interesses de parte, desenterrando linguagens obsoletas, redesenhando áreas de influência e blocos contrapostos”, disse o Papa.
Francisco declarou ter “a impressão de assistir a uma cena dramaticamente infantil: no jardim da humanidade, em vez de cuidar do todo, brincamos com o fogo, com mísseis e bombas, com armas que provocam pranto e morte, cobrindo a casa comum de cinzas e de ódio”.
A este propósito pediu que “os conflitos emergentes não façam perder de vista as tragédias latentes da humanidade, como a catástrofe das desigualdades na qual a maioria das pessoas que povoam a Terra experimenta uma injustiça sem precedentes, a vergonhosa chaga da fome e a calamidade das alterações climáticas, sinal da falta de cuidado para com a casa comum”.
Para Francisco o apelo para a paz deve começar pela oração e a “abertura do coração” a Deus “para nos purificar do egoísmo, do isolamento, da autorreferencialidade, das falsidades e da injustiça”.
“Quem reza, recebe no coração a paz, não podendo deixar de se fazer sua testemunha e mensageiro, convidando os seus semelhantes”, disse o Papa, sublinhando, contudo, a necessidade indispensável da existência de liberdade religiosa, afirmando que “não basta conceder autorizações e reconhecer a liberdade de culto; é preciso alcançar a verdadeira liberdade de religião”, declarou.
“Não basta dizer que uma religião é pacífica, é preciso condenar e isolar os violentos que abusam do seu nome Não basta sequer distanciar-se da intolerância e do extremismo, é preciso agir em sentido contrário. «Por isso, é necessário interromper o apoio aos movimentos terroristas através do fornecimento de dinheiro, de armas, de planos ou justificações e também da cobertura mediática, e considerar tudo isto como crimes internacionais que ameaçam a segurança e a paz mundial” – disse o Papa citando a declaração de Abu Dhabi sobre a Fraternidade Humana e a Paz.
“O homem religioso, o homem de paz, opõe-se também à corrida ao rearmamento, aos negócios da guerra, ao mercado da morte. Não sustenta «alianças contra ninguém», mas caminhos de encontro com todos” – declarou ainda o Papa.
O Santo Padre assinalou ainda a importância da educação pois “a ignorância é inimiga da paz”, e destacou três urgências educativas: o reconhecimento da mulher na esfera pública; a tutela dos direitos fundamentais das crianças e a educação para a cidadania.
No final do seu discurso no Forum para o Diálogo entre Oriente e Ocidente, o Papa pediu para alargarmos o coração ao irmão. “Estreitemos entre nós laços mais fortes, sem duplicidade nem medo”, disse Francisco exortando todos “à adoração de Deus” para serem “profetas da convivência, artesãos de unidade, construtores de paz”.
RS