Ressonâncias…

Por João Alves Dias

Uma confidência… Gosto de ler os meus textos depois de publicados. E porquê? Porque a escrita é um ato solitário, já a leitura é um ato solidário. Quando escrevo, faço-o na solidão do escritório e no silêncio dos sentidos. O texto é um produto individual. Ao ser publicado, deixa de o ser e faz-se coletivo. O que era apenas meu, passa a ser de todos os seus leitores que o recriam de acordo com a sua subjetividade. Ao lê-lo na VP, sou um igual, sinto-me em comunhão com quem comigo partilha dessa leitura. A sensação de pertença avoluma-se quando me chegam mensagens que ampliam o seu conteúdo.

No ‘Dia dos Fiéis Defuntos’, quero partilhar convosco três dessas ressonâncias que agradeço. Chegaram-me em tempos diferentes, mas todas falam de ‘fiéis’ que já partiram para a ‘Casa do Pai’. Bem merecem a nossa memória e as nossas orações.

A primeira faz-se eco do texto sobre o Dr. Albino Aroso: ‘Eram tempos novos e controversos’.

“Foi nesse tempo que conheci o Dr. Albino Aroso. Recordo-o como homem bem-apessoado, porte distinto com a simpatia e o sorriso estampado no rosto. Afável, acolhedor, soube interpretar a mulher, a sua saúde, como ninguém. Ao

divulgar o uso da pílula contraceptiva deu-lhe tranquilidade e segurança; pela formação de equipa multidisciplinar na sua consulta, em que incluiu o Psiquiatra, o Psicólogo, possibilitou a abordagem global da sua saúde. Foi também uma forma de divulgar e ensinar métodos pouco conhecidos entre nós que muito a valorizou. Até aí, o casal pouquíssimos recursos tinha para gerir responsavelmente a dimensão da sua família.

Saber, simpatia, rectidão são atributos que lhe couberam.

É justo que se recorde e homenageie um Homem que, quer como médico, quer como professor e palestrante, tanto fez pelo bem-estar da Mulher. Bem-haja, Dr. Albino (Maria Margarida C. Silva, antiga docente da Escola Superior de Enfermagem Ana Guedes,)”.

A segunda refere-se ao P. José Maria Cabral Ferreira: ‘Contemplativo na ação’.

“O nosso Conselheiro Espiritual, Padre Zé Maria, ocupava um lugar discreto, frequentemente silencioso, atento e reverente, no nosso meio. Com uma palavra, às vezes, ‘A Palavra’ decisiva, porque apoiada e assente na Mensagem Evangélica. Humanamente falando, ele representava uma mais-valia para todos os casais pois dava-nos a sua experiência, a sua idoneidade, a sua mundividência que é uma espécie de alavanca para fazer mexer o mundo, ou os nossos mundos pessoais e relacionais, tantas vezes atormentados e confusos no meio da espuma destes dias cinzentos. E aí estava o seu conselho sábio, avisado, prudente e razoável a restituir-nos essa parte de nós que estava escondida, adormecida, oculta e que de imediato se torna semente a germinar, solução a ponderar, hipótese a confirmar, presença a discernir (Manuela e José Melo, das Equipas de Nossa Senhora)”.

A terceira fala de D. Sebastião Leite de Vasconcelos: “Em honra de S. José”

“A propósito do teu artigo na VP, confirmo que, efetivamente, o Bispo fundador das Oficinas de São José jaz sepultado no talhão privativo da Santa Casa da Misericórdia do Porto, no Cemitério do Prado do Repouso, em jazigo de pedra, muito bonito mas a precisar de obras de restauro. No ano passado, o Bispo de Beja quis trasladar para a Diocese os restos mortais do seu Bispo. A SCMP mostrou-se aberta e cooperante, mas um familiar, creio que remoto, mostrou-se contrário. Julgo que se muniu de um parecer de um advogado ou, pelo menos, ameaçou contestar em tribunal o direito de trasladação. Perante isso, o Bispo de Beja e o Vigário Geral desistiram do intento. (Francisco Ribeiro da Silva, Mesário do Culto e da Cultura da Santa Casa da Misericórdia do Porto)”.

Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso, entre os esplendores da luz perpétua. Descansem em paz. Ámen