“Não se nega a voz do povo de Deus”

A propósito da publicação, nesta quinta-feira dia 27 de outubro, do Instrumentum Laboris I para o Sínodo. 

Por Rui Saraiva

Esta semana será publicado o Instrumentum Laboris I do Sínodo que teve início em 2021. Este documento de trabalho foi preparado a partir das sínteses sinodais nacionais que foram enviadas para o Vaticano após a consulta nas dioceses de todo o mundo. Um processo global de comunicação com uma inédita dinâmica de participação e amplo envolvimento de todas as realidades da Igreja.

A propósito deste processo sinodal em curso, o padre Paulo Terroso, sacerdote da Arquidiocese de Braga, que é membro da Comissão de Comunicação do Sínodo, destaca a importância de ser ouvida a voz do povo de Deus.

“Não se nega a voz do povo de Deus! Não se nega! Todos os assuntos que o povo de Deus entende que devem ser falados e abordados estão lá. O que é que o povo de Deus tem a dizer neste momento? E esta primeira fase já é discernimento e continua esse processo de discernimento e aprofundamento daquilo que se tem vindo a escutar”, salienta o responsável português em declarações à Agência Ecclesia, publicadas no Vatican News.

O padre Paulo Terroso foi uma das 50 pessoas que estiveram reunidas em Frascati, perto de Roma, durante 12 dias, trabalhando em ritmo sinodal e preparando este documento que agora será publicado e que foi entregue ao Papa Francisco a 2 de outubro.

Nesse encontro, os participantes não estiveram a fazer “análise sociológica”, refere o sacerdote, mas leram os documentos através do método da sinodalidade: partilhando a “experiência pessoal” e a “vivência da fé, à luz da Palavra de Deus e guiados pelo Espírito Santo”.

Para este processo sinodal podem estar reservadas “muitas surpresas”, assinala o padre Paulo Terroso salientando que há um desejo de mudança na Igreja.

“Depois do Concílio Vaticano II este é o grande momento. E acho que nos reserva muitas surpresas. Este processo sinodal que está em curso é também o reconhecimento de muitos cardeais e bispos de que a forma de governo da Igreja e dela dialogar e de se relacionar com o mundo tem que ser através deste método. Ou seja, não pode ficar exclusivamente na mão daquilo que é a hierarquia ou do ministério ordenado, mas que o povo de Deus deve participar. E também sublinhar este aspeto de que é notório e claro o desejo de mudança, de reforma na Igreja”, sublinha o sacerdote.

Como aqui noticiamos, o Papa Francisco decidiu no passado dia 16 de outubro aprofundar o Sínodo até 2024. O processo de escuta e discernimento continua agora com Assembleias Sinodais Continentais entre janeiro e março de 2023. Em outubro será a primeira sessão da XVI Assembleia do Sínodo dos bispos em Roma. Em 2024 será a segunda sessão. Um processo sinodal que está a preparar o futuro da Igreja.