Por Secretariado Diocesano da Liturgia
Na passada sexta-feira, 14 de outubro de 2022, Francisco recebeu na Sala do Concistório os participantes no concurso “Christmas Contest», guiados e apresentados pelo cardeal Tolentino.
Christmas Contest é um concurso que pretende dar resposta a um desafio lançado pelo Papa Francisco. Ele considera que o mundo se pode transformar num lugar melhor mediante a educação. Para tal convida a ouvir as vozes das crianças e dos jovens. Aos artistas reunidos no Vaticano para um concerto de Natal ele afirmou: «mesmo na desorientação provocada pela pandemia, a vossa criatividade pode gerar luz». Christmas Contest assume estes desafios: investir na educação, dar voz aos jovens e gerar luz e criatividade. Inspirando-se no acontecimento do Natal, o concurso deseja promover os valores da vida, do amor e da paz. São admitidos concorrentes dos 16 aos 35 anos, quer a solo quer em grupo. As três categorias premiadas são: letra, música e execução.
E que disse o Papa aos concorrentes? Em primeiro lugar aconselhou-os a serem genuínos, originais, criativos sem cair na tentação de imitar as vedetas emergentes do mundo do espetáculo. «Não sigais – disse – as modas e os esquemas de sucesso; não repitais os lugares comuns de um Natal falso e adocicado, que nada tem a ver com o nascimento de Jesus em Belém e com o seu significado para a humanidade atual».
E a este conselho juntou duas recomendações: recuperar o assombro; procurar a simplicidade na expressão artística.
A primeira recomendação lembra-nos uma das tónicas da recente Carta Apostólica Desiderio Desideravi. Francisco constata: «Nós perdemos o sentido do assombro e devemos recuperá-lo». E exorta: «que na base esteja o assombro, o espanto perante o impensável: um Deus que se faz carne, que se faz criança inerme, nascido de uma Virgem, numa gruta, e que teve como berço uma manjedoura para os animais. O assombro. Se não se sente o assombro, a canção não fala ao coração, não comunica…».
Afinal, também a música popular, composta para os mais variados contextos, encontros, espetáculos e convívios que extravasam o âmbito do culto podem entrar (ou não) no «pacote» dos recursos formativos que conduzem a uma autêntica experiência litúrgica desde que brotem da mesma experiência antropológica fundamental: o assombro, o fascínio perante o mistério, o maravilhamento perante o acontecimento singular em que o desígnio amoroso de Deus se fez carne e sangue, em que o Verbo se fez carne. E poderíamos fazer um inventário alargado de cantares tradicionais do Natal, janeiras e reis, que surgiram fora do âmbito do culto mas na sua órbita, e em que esse enlevo se tornou cultura.
O outro ingrediente que o Papa propõe aos jovens artistas é a simplicidade que – adverte – não é banalidade. «O presépio é simples, mas não é banal». Francisco exemplifica com um cântico de Santo Afonso Maria de Ligório, popularíssimo em Itália: “Tu scendi dalle stelle”. Mas poderíamos citar inúmeros exemplos fascinantes das tradições de muitos povos em que a beleza e a simplicidade andam de mãos dadas e continuam a enlevar-nos e comover-nos. «E isto não é sentimentalismo, isto é mais, é o que vem de dentro, é autêntico».
Por fim o Papa valoriza o contributo da música para a construção de um mundo mais pacífico: «a música é uma linguagem universal que ultrapassa confins e barreiras». Este contributo para a paz é potenciado pelo valor educativo da música que humaniza e «educar quer dizer humanizar».
Temos bem consciência de que a música litúrgica não é «música de contexto» mas é antes o próprio «texto» – preces e ritos – do mistério celebrado segundo a «lex orandi» da Igreja, que recorre ao canto e à música para alcançar a plenitude da sua expressão. Mas estas recomendações do Papa Francisco a participantes de um concurso de música popular podem «adaptar-se», sem forçar a nota, aos compositores, cantores e músicos litúrgicos: que fujam dos vedetismos, que as suas obras brotem de um genuíno assombro/enlevo perante o mistério celebrado e que procurem a simplicidade da expressão, fugindo da banalidade. Por fim, que as suas produções promovam a comunhão, a unidade da assembleia celebrante e a eduquem para alcançar uma verdadeira «arte de celebrar».