Uma leitura do filme “O Predador: Primeira Presa” *
Por Alexandre Freire Duarte
Longe vão os tempos em que vibrava com filmes de ação como o primeiro “Predador”. Foram os fantásticos anos 80, de uma juventude repleta de música com amianto. Uma vida que só não foi melhor, porque não conheci presencialmente o fabuloso doutor Bartolomeu Ribeiro, que, para muitos dos que viveram junto à Fábrica de Elementos Perigosos, era o Schwarzenegger “lá da terra”.
Depois, os filmes da série “Predador” foram ficando tão maus que não me recordo de ter mais ouvido falar deles. Mas eis que, neste Verão, surgiu este esplendido filme de aventura (mais do que de horror). A fotografia é belíssima; a direção é de gabarito; as cenas de peleja, por vezes violentas e ferozes, surgem coreografadas com cuidado e bem inseridas nos cenários naturais circundantes; as interpretações são saborosas, em especial a da estoica e, a par, entusiasta figura principal; enfim, a mistura da história com os ápices de ação é muito hábil.
Com tudo isto, temos uma emocionante e inteligente obra que (sem o recurso a milhões, a maravilhas de animação computadorizada, a barulhos ensurdecedores, a ardis de filmagens em câmara-lenta ou a evocações saudosas daquele primeiro filme da série) leva a distintas linhas de ponderação. Desde logo: quem são estes surpreendentes Comanches? quem é o “predador” e quem é a “presa”? e se houver mais do que um “predador”, qual é o maior “vilão” e, mormente, por que razão?
Os temas retratados em “O Predador: Primeira Presa” não são muito numerosos, mas estimulam a reflexão teológica, em especial nestes nossos dias de (anti-)feminismo, ambientalismo, sensibilidade cultural e releitura (anacrónica) da história. Gostaria, com a brevidade que me é possível, de trazer dois deles até vós.
Desde logo, temos uma jovem (com mais ou menos a mesma idade que Maria terá tido quando disse “sim” a Deus) cheia de coragem, espírito de sacrifício e honra, que, diante de desafios tremendos, vê desafios, oportunidades e meios de aprendizagem onde outros só viam motivos para desânimo, derrotas e obstáculos. Só ela, vivendo em harmonia com a Criação e em fraternidade com os seus, tem a humildade para se reconhecer frágil e deslindar que o seu adversário (metáfora possível para o que de mais monstruoso existe em nós: o nosso egoísmo sempre aliado ao nosso corrosivo amor-próprio) só poderia ser vencido, não por um embate frontal, mas pela prudência, a paciência e demanda sincera do bem dos demais.
Depois temos o da busca do reconhecimento, pelos demais, do próprio valor e inerente receção de estima. Nós, cristãos, devemos desejar ser exemplares em tudo (em especial no amor e nas virtudes que se desdobram deste), mas a nossa valia, e a estima de que somos objeto, não dependem, nem de nós, nem dos demais. Elas são-nos oferecidas pelo único “crítico justo” que existe: Deus-Amor. Demandar um tratamento justo, que consubstancie essas duas realidades, não está errado, mas querê-las ansiosamente a despeito de Deus, não é caminho que devamos seguir, acaso queiramos crescer no Espírito do Senhor em vez de nos acharmos enganados.
(* EUA, 2022; dirigido por Dan Trachtenberg, com Amber Midthunder, Dakota Beavers e Dane DiLiegro)