MECs: Testemunhas da Fé e da Esperança num serviço de Amor

Cumpriu-se a «tradição»: no primeiro domingo de outubro, o Bispo do Porto celebrou a investidura de novos Ministros Extraordinários da Comunhão [= MECs] na Igreja catedral do Porto significando assim – pela sua presença e pelo lugar – que esta nomeação é um acontecimento da Igreja Diocesana. Foram 106 os designados, provenientes de 46 paróquias e comunidades de toda a geografia da Diocese Portucalense.

Partindo da Liturgia da Palavra do 27º Domingo do Tempo Comum (Ano C), D. Manuel Linda recordou aos fiéis, a quem conferia o mandato para serviço tão importante nas suas comunidades e, nomeadamente, em favor dos doentes e pessoas mais frágeis, que o ministério em que iam ser investidos não só pressupunha a fé mas reclamava deles um especial testemunho dessa mesma fé oferecido aos irmãos. E porque a fé é indissociável da esperança e da caridade, perante situações difíceis – como a vivenciada por Habacuc (1ª leitura) –, compete hoje aos MECs suscitar e alimentar a esperança.

Mas o aspeto em que o nosso Bispo mais insistiu, a partir da parábola evangélica (Lc 17, 7-10), foi na dimensão do serviço que deve caracterizar os MECs. De facto, a sua nomeação, a pedido dos respetivos párocos, não lhes confere um estatuto de superioridade em relação aos demais fiéis, mas antes os mandata para o serviço.

Prolongando a reflexão de D. Manuel Linda, lembremos que a palavra “ministro” deriva do latim “minister” que tem no seu radical o adjetivo minus que significa menor por contraposição a outrem a quem o ministro se subordinava e que era mais ou maior (“magis”): o magister (mestre). Os ministros eram, simplesmente, servos, criados, servidores subalternos.

No início da era cristã, «ministro», «servo», «ancilla» (…) tornou-se um título honroso para os cristãos desejosos de imitar o seu Mestre e Senhor que na Ceia lavou os pés aos seus discípulos deixando-lhes o exemplo para que, assim como Ele fez, também eles fizessem (Jo 13, 1-16).

É significativo que, no momento em que os Sinópticos relatam a Instituição da Eucaristia, o Evangelista João nos apresente o Lava-pés com a «instituição» do mandato do serviço. Há, de facto, um  claro paralelismo entre o «fazei isto em memória de mim» da instituição eucarística e o «dei-vos o exemplo, para que assim como Eu fiz vós façais também» da instituição do mandato da caridade fraterna que se faz serviço até ao dom supremo da própria vida.

Também São Lucas situou no mesmo contexto a resposta terminante do Mestre à discussão dos discípulos interessados em saber quem era «o maior»:

«Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles devia ser considerado o maior. Jesus disse-lhes: «Os reis das nações imperam sobre elas e os que nelas exercem a autoridade são chamados benfeitores. Convosco, não deve ser assim; o que fôr maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. Pois, quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22, 24-27; cf. Mt 20, 25-27; Mc 10, 42-44).

Esta é, pois, uma nota distintiva do cristianismo que nobilita o serviço: somos «servos do Senhor», chamados a servir os irmãos. No topo da hierarquia ministerial da Santa Igreja está o «servo dos servos de Deus», o «ministro dos ministros».

Em suma: compreendemos que a investidura no serviço dos MECs possa ser vista como uma honra, porque para um discípulo de Cristo «servir é reinar». Efetivamente, os MECs são investidos numa missão que consiste em servir: com generosidade, competência, discrição, gratuidade. Com com­promisso responsável e perseverante. Muitas vezes tendo de renunciar aos próprios planos, lazeres e convívios domésticos para cumprir a missão que lhes foi confiada. Mas sabendo bem qual a recompensa que os espera: o próprio Senhor e a comunhão com Ele. Ele que não veio para ser servido, mas para servir. Ele que, sendo Senhor e Mestre, lavou os pés aos seus discípulos. Ele que, sendo de condição divina, quis assumir a nossa condição servil, em tudo igual a nós exceto no pecado.

Assim entendida a missão, felicitamos os novos MECs e as suas comunidades.