Por M. Correia Fernandes
A semana passada ficou marcada, a nível de comunicação eclesial, pela realização das Jornadas Nacionais de Comunicação Social. São encontros já habituais e que visam a chamada de atenção para a dignidade e importância da comunicação social, em cada fase de novos acontecimentos, certamente hoje diferentes dos de ontem e diferentes dos de amanhã.
Nos dias que correm, era indispensável tomar como polo de atração temática o projeto e preparação da Jornada Mundial da Juventude, a realizar em Lisboa, nos primeiros dias de agosto de 2023. Ali se salientou que, embora as Jornadas Mundiais da Juventude estejam a ser sonhadas e preparadas no universo português, elas se orientam para a Igreja Universal e para toda a sociedade humana, são frutos de um caminho comum de muitas iniciativas, e de um trabalho intergeracional e de fundas dimensões eclesiais. Este sentido do trabalho que engloba diversas gerações constitui elemento fundamental da Jornadas: passar dos jovens ao universo da sociedade humana, partindo da iniciativa e do vigor da juventude como proposta de dinamismo contínuo. Os conteúdos e a projeção das mensagens devem ser pensados e operacionalizados de forma que conduzam, pela dinâmica da presença e do anúncio, as Jornadas a atingir e dinamizar as mentes e o coração do mais amplo universo de pessoas. Lembre-se que os primeiros discípulos possuíam ainda a força de juventude e por isso se tornaram mensageiros.
Neste universo, a comunicação deve centrar-se, segundo a proposta de Francisco, na disponibilidade para a escuta, para o acolhimento e para a convicção de que nem sempre mais informação é sinal de mais verdade.
Com efeito, uma reflexão serena sobre comunicação nestes dias não pode deixar de parte a grave questão da verdade na comunicação. Em tempos de guerra, é sabido da História, que a desinformação constitui uma arma frequentemente mais poderosa que as armas reais.
O drama da comunicação hoje em dia assenta tanto no conteúdo como na proliferação das formas e das fórmulas. A fórmula verbal divulgada como “fake news” (notícias falsas) aplicava-se às notícias que as agências iam divulgando com a aparência de serem normais e verdadeiras, através dos processos de divulgação tradicionais, em que a prática da informação se conduzia por normas fixadas e aceites. Porém as tecnologias permitiram o desenvolvimento de processos de divulgação em que se sobrepõem a todas as normas e não obedecem a nenhumas.
Transgredir normas definidas e aceites tornou-se vulgar e constitui geralmente motivo de contraordenações legalmente objeto de processos disciplinares ou judiciais, a que pode ser aplicada uma pena. Porém, os processos de divulgação, já não dizemos de informação, mas de outro tipo de influência ou propaganda, sobretudo de carácter sub-reptício, tornaram-se um dado comum que ultrapassa todas a normas de verdade e de honestidade, e que visivelmente proliferam nas chamadas “redes sociais”, sem que a sua transgressão seja responsabilizada e punida.
Neste universo, vale a pena lembrar a mensagem de 2018 para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que continua com atualidade: “A eficácia das fake news fica-se a dever, em primeiro lugar, à sua natureza mimética, ou seja, à capacidade de se apresentar como plausíveis. Falsas mas verosímeis, tais notícias são capciosas, no sentido que se mostram hábeis a capturar a atenção dos destinatários, apoiando-se sobre estereótipos e preconceitos generalizados no seio dum certo tecido social, explorando emoções imediatas e fáceis de suscitar como a ansiedade, o desprezo, a ira e a frustração. A sua difusão pode contar com um uso manipulador das redes sociais e das lógicas que subjazem ao seu funcionamento: assim os conteúdos, embora desprovidos de fundamento, ganham tal visibilidade que os próprios desmentidos categorizados dificilmente conseguem circunscrever os seus danos”.
A única forma de nos podermos preservar desta influência maléfica tem de ser o espírito e a capacidade crítica. Ou, como afirma Francisco, “o antídoto mais radical ao vírus da falsidade é deixar-se purificar pela verdade”, dado que esta “não é uma realidade apenas conceptual, mas tem a ver com a vida inteira”.
Dois conceitos deveriam ser interiorizados: um, que a missão do informador é a promoção da convivência e da paz; outro é a palavra bíblica esquecida: “procurareis a verdade e a verdade vos libertará” (João, 8,32).