João Duque, pró-reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), recebeu na quinta-feira 15 de dezembro o Prémio ‘Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes’, atribuído pela Igreja Católica, que destaca o seu contributo na área da Teologia.
“Uma teologia universitária – e tem sido a essa que eu tenho preponderantemente dado voz, sem negar a importância da tradição cristã e eclesial – tem sobretudo dois objetivos fundamentais: fazer ouvir a voz teológica no concerto dos saberes e das realizações culturais; fazer ouvir a voz dos saberes e das culturas no interior da voz teológica”, disse o docente universitário, na sessão que decorreu no Auditório Vita, da Arquidiocese de Braga.
Segundo João Duque, a Teologia, que escreve ou a que é escrita por “quase todos” os seus colegas, “não é ainda significativamente acolhida no espaço público”, como seria desejável e, acredita, “benéfico para todos”.
“A sua voz pode ser muito pertinente na busca e nas propostas para a construção de um mundo comum, muito para além das identificações religiosas”, assinalou, numa intervenção publicada pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC).
O teólogo de 58 anos, nascido no concelho de Monção, Viana do Castelo, foi o escolhido para receber o Prémio ‘Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes’, edição de 2021, da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, da Igreja Católica em Portugal.
João Duque explicou que interpretou este prémio como “reconhecimento e valorização de um estilo de Teologia que não se limita a refletir a vida interna da Igreja”, mas que procura contribuir para o debate sobre “a vida comum a todos os humanos”, em todas as suas dimensões.
O pró-reitor da Universidade Católica Portuguesa considera também que se “valoriza explicitamente” o trabalho da Faculdade de Teologia em Portugal, ao longo dos últimos mais de 50 anos, e que é “muito importante para a vida da Igreja”, na formação dos líderes eclesiais e na reflexão crítica sobre as dinâmicas culturais, e a importância do contributo da fé cristã para o mundo comum contemporâneo, pela mediação da teologia.
João Duque é doutor em Teologia Fundamental, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, na Faculdade Jesuíta de Sankt Georgen, em Frankfurt, Alemanha, com uma tese sobre a filosofia da arte de Hans-Georg Gadamer (1996).
Para o primeiro teólogo a receber o ‘Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes’, a Teologia “terá de entrar num trabalho transdisciplinar muito enriquecedor”, para que a Igreja “não se feche no seu gueto”, e se o desejo é que a teologia europeia “preste um serviço à relação da Europa consigo e com os outros, na busca de um mundo comum”: “E não há melhor contexto para esse trabalho do que a Universidade, seja Católica ou não”.
João Duque apresentou também um “pequeno esboço de um conjunto de desafios” que se colocam aos humanos e que são, “inevitavelmente, também desafios colocados à teologia”, na sua intervenção publicada online pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
O Prémio ‘Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes’ é composto pela escultura “Árvore da Vida”, da autoria de Alberto Carneiro, e foi entregue pelo presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, o bispo D. João Lavrador, e por 2500 euros, com o patrocínio da Fundação Ilídio Pinho.
João Loureiro, professor catedrático, da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, apresentou o premiado, destacando que João Manuel Duque “cruza tradição e inovação, memória e futuro; melhor: a incerteza do porvir”.
“Capaz de revisitar temas clássicos, mas também de se confrontar com os desafios da cibercultura, com as suas dimensões neognósticas e com a apocalítica do pós-humano”, acrescentou.
“Manda a tradição que o galardoado agradeça o prémio, mas, verdadeiramente, nós é que temos de mobilizar essa palavra primeira da condição humana: agradecer pela vida de João Manuel Duque; pela sua fundamental via teológica e pelo dom da partilha das suas ideias e textos; agradecer porque a sua reflexão ajuda-nos a ter “saudades do futuro” (Teixeira de Pascoaes)”, concluiu João Loureiro.
O júri do Prémio ‘Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes’, presidido por D. João Lavrador e composto por Guilherme d’Oliveira Martins, José Carlos Seabra Pereira, o padre Júlio Trigueiros (jesuíta) e Maria Teresa Dias Furtado, considerou João Manuel Duque como “um cruzador de fronteiras”.
Instituído em 2005, o Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes destaca a excelência de personalidades, percursos e obras que refletem o humanismo e a experiência cristã no mundo contemporâneo.
O SNPC recorda que, nas suas anteriores edições, o Prémio galardoou o poeta Fernando Echevarría, o cientista Luís Archer S. J., o cineasta Manoel de Oliveira, a classicista Maria Helena da Rocha Pereira, o político e intelectual Adriano Moreira, o trabalho de diálogo entre Evangelho e Cultura levado a cabo pela Diocese de Beja, o compositor Eurico Carrapatoso, o arquiteto Nuno Teotónio Pereira, o pedagogo Roberto Carneiro, o jornalista Francisco Sarsfield Cabral, a artista plástica Lourdes Castro, o professor de Medicina e Bioética Walter Osswald, o ator e encenador Luís Miguel Cintra, o ator Ruy de Carvalho, o historiador José Mattoso e o ensaísta Eduardo Lourenço.
(inf: Agência Ecclesia)