
Sabia que existem tentativas de dedicar um Dia Internacional ao Domingo Livre de Trabalho? E que esses esforços não são feitos exclusivamente pelos cristãos? Aliás, a maioria dos países muçulmanos também faz descanso semanal aos Domingos. E cumprem-no «religiosamente».
A humanidade cresceu civilizacionalmente à medida que se foi dotando de marcos compartidos por todos. É o caso «revolucionário» de tomar um dia da semana e libertá-lo do trabalho servil para recompor as forças biológicas e proporcionar momentos de distensão pessoal, familiar, social e religiosa. A tradição judaico-cristã levou isso muito a sério e fez do descanso sabático uma norma básica e estruturante de toda a fé.
E assim se manteve até aos anos noventa. Até há cerca de trinta anos. Foi nessa altura que entrou em jogo um novo fator: o grande capital e os dois acólitos que o sustentam, o consumismo e o materialismo. A taxa do desemprego era altíssima. Por isso, entre o desespero da falta de meios e o assumir algo que violava a consciência, muitos tiveram de se sujeitar. E os adoradores do lucro pelo lucro viram nisso uma concordância de princípio. Mas não.
Para o grande capital, o Domingo é um dia igual aos outros. Mas o facto é que sempre se distinguiu entre o trabalho indispensável para o bom funcionamento da sociedade, tal como saúde, transportes, segurança, solidariedade social, etc., e o trabalho dispensável ou prescindível, normalmente ligado à agricultura, à indústria, ao comércio e à construção.
O trabalho ao Domingo é fator e corolário de uma vivência materialista da vida. Quer por parte da estrutura capitalista, quer mesmo pelo consumidor que o procura. Este, embarcado na alienação de que o consumo gera a felicidade, acaba por desconhecer a sacralidade da vida, base do sentido da dignidade pessoal, desperdiça a oportunidade de encontro consigo, com a família, com os outros e com Deus e viola os ritmos de atividade/paragem, indispensáveis para que se encontrem tempos e espaços de contemplação.
Fala-se na redução do trabalho a quatro dias semanais. E porque não se fala do descanso dominical? Estamos anestesiados? A Europa respeita-o. Nós, Portugal, não. Mas isso não diz bem do nosso desenvolvimento económico nem do progresso humano.
Será que prezamos muito o triste lugar de cauda da Europa?
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