Feira do Livro: uma oportunidade para a cultura

Por M. Correia Fernandes

Ao mesmo tempo em Lisboa e Porto, ocorre nestes dias a presença nos espaços citadinos das tradicionais Feiras do Livro. Numerosos são os motivos pelos quais estes eventos devem ser saudados por uma sociedade em que muito se fala de cultura, em que até há um Ministério para ela, em que são múltiplas (mas muito desiguais) as suas expressões na comunicação social e na vida comunitária em geral. Os meios modernos de transmissão de pensamentos e sentimentos, substituíram as interpretações da vida e dos seus dramas que se tornavam o caldo dos conteúdos dos romances e expressões dos próprios modelos filosóficos e mesmo científicos, e hoje, por contraste lamentável, se limitam a superficialidades imediatista, quando não a conteúdos ofensivos, vazios de ética e moralidade, interesseiros e oportunistas.

É por isso que o livro continua a ser uma fonte do saber e da sua procura. Vale a pena pensar as razões que conduzem à continuidade da realização de Feiras de Livros com pavilhões cada vez mais numerosos, a propostas editoriais cada vez mais imaginativas. Parece ser sintoma de que a presença do livro continua a constituir uma dimensão social de valorização e de cultura. É também significativa a profusão de bancas de alfarrabistas, ao lado das editoras, o que pode traduzir o sentido de atenção aos valores tradicionais tanto como uma maior acessibilidade económica. Sobressaem nomes como Edições Saída de emergência ou Homem dos Livros, ao lado da editoras de nomes  já reconhecidos, e das editoras das diversas Universidades e instituições.

 

As Feiras do Livro são igualmente oportunidade para contacto com autores, que ali podem dispor de diálogo e reconhecimento.

Foi o caso da poeta Ana Luísa Amaral (1956-2022), a quem se preparava uma homenagem como autora referenciada no decorrer da Feira. Essa homenagem transformou-se em homenagem póstuma, dado o seu falecimento a pouco tempo do início do evento. A homenagem não deixou de lhe ser prestada, também através da atribuição do seu nome a uma tília, à imagem de outros autores portuenses, como Sophia de Mello Breyner ou Mário Cláudio.

Havíamos de recordar nestas páginas que à sua vida de Professora da Universidade se associou sobretudo a sua dimensão de poeta. Fazemo-lo, recorrendo a um texto de Paula Margarida Pinho, que compreendeu e valorizou a sua dimensão poética em vida, como explicita o texto que publicamos.