Realizou-se em Fátima, nos dias 29 de agosto a 1 de setembro, a 10.ª edição do Simpósio do Clero, que teve como tema aglutinador “Identidade Relacional e Ministério Sinodal do Presbítero”.
A linha de enquadramento desta edição situou-se no contexto atual do processo sinodal, como pano de fundo do conjunto das realizações e propostas. O primeiro dia teve uma dimensão doutrinária proposta por pessoas ligadas à Santa Sé na sua dimensão evangelizadora. A mensagem do Cardeal Lazzarus You Heung-sik, Prefeito da Congregação para o Clero, propôs uma reflexão sobre o sacerdócio pós-conciliar, com as suas luzes e sombras, e Mons. Piero Coda, Secretário Gral da Comissão Teológica Internacional, apresentou a partir da Doutrina do Concílio Vaticano II, o fundamento cristológico e trinitário do sacerdócio na Igreja sinodal.
A referência ao Concílio Vaticano II foi uma presença frequente dos diversos oradores, o que demonstra a largueza da sua dimensão teológica que se projeta para o futuro. Piero Coda salientou o compromisso para a transformação do mundo e da vida consagrada como profecia, bem como o compromisso de cada Igreja local como comunhão de toda a Igreja.
D. Stefano Guarinelli, docente de Psicologia no Seminário de Milão, psicólogo e psicoterapeuta, falando da dimensão relacional do sacerdote, quer com Deus, quer na dimensão interpessoal, associou a relevância da interioridade à dinâmica interpessoal, no espaço da experiência e do conhecimento. Seguindo um esquema muito baseado na experiência e no conhecimento da psicologia, valorizou o sentido da terapia como identificação e cura dos males do corpo e do espírito, salientado que o cuidado não deve ser coisa superficial, e a própria pregação se deve tornar uma forma de terapia, concorrendo nesta dimensão quer a justeza das ideias e propostas quer a brevidade com que devem ser propostas. Referiu a relação entre pensamento especulativo e pensamento obsessivo, resultante do nível emocional, conduzindo a que frequentemente as formas de pensar resultam de vivências emocionais que condicionam os comportamentos, salientando a relação entre consciência e experiência, fomentando o que chamou “identidade psicológica”. Afirmou a psicoterapia como um serviço, trabalhando com a mente em ordem à “guarição”, à cura. Não deixou de abordar a questão controversa da homossexualidade, acentuando que o celibato deve ser assumido com o carisma.
Mensagens de especialistas
Interessantes foram também as propostas de duas mulheres sobre a missão do sacerdote: Margarida Cordo, psicóloga clínica e da saúde, terapeuta familiar e psicoterapeuta, que acentuou a identidade sacerdotal como proposta de relacionamento com Deus, e a identidade interpessoal, salientando que o padre deve ser alguém com uma personalidade estável, equilíbrio afetivo, autodomínio e sexualidade bem integrada, postulando um percurso formativo nas dimensões da afectividade e da sexualidade, e salientando que a dimensão do celibato seja direcionada para o cumprimento da sua missão.
Por seu lado, Nathalie Becquart, Subsecretária Geral do Sínodo dos Bispos, estabeleceu relações entre o ministério sacerdotal e outros estados de vida. Falando em francês, acentuou a “eclesiologia sinodal” como consequência de uma eclesiologia batismal e fundamentada numa antropologia relacional. Propôs uma transformação do paradigma dominação/competição para o paradigma acompanhamento /presença. Propôs uma circularidade dinâmica, passando de uns, para alguns, para todos. Propôs também um conjunto de atitudes-chave: fé e confiança, acompanhamento espiritual, escuta e discernimento, cultura de consenso, presença, partilha, e o que chamou modelo “conspirativo”, isto é de respiração com os fiéis. Definiu sinodalidade como uma maneira de decidir, consultando as instâncias associadas à decisão.
Por sua vez, o P. Tony Neves, Conselheiro Geral dos Missionários Espiritanos, recorrendo sobretudo à sua experiência, falou da força das linhas de orientação do papa Francisco, sobretudo da “Laudato Sì”, ao propor o conceito de uma Ecologia integral da pessoas humana, propondo linhas de desafio missionário, que evidenciou no exemplo de cinco missionários com quem privou em vários locais no mundo, propondo a Profecia com a dupla dimensão da contemplação e da ação, um projeto profético ao serviço da Humanidade.
Vários testemunhos e experiências completaram o universo desta visão sobre o ministério sacerdotal: o relacionamento com os movimentos juvenis e a pastoral familiar, com a testemunhos do papel do sacerdote; a apresentação de propostas de evangelização: os Cursos Alpha, experiência da vigararias, de unidades pastorais e de paróquias. A paróquia apresentada foi a da Senhora da Hora, da diocese do Porto, pelo seu pároco Amaro Gonçalo.
Na conclusão, o Bispo de Vila Real, D. António Augusto Azevedo, na qualidade de Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios, apresentou uma conclusão do encontro em três palavras: Abraço ao Clero, Agradecimento e Envio.
Considerou o encontro como uma expressão da solidariedade eclesial e pastoral, com o ânimo para o futuro e espírito sinodal e sob a presença de Maria, em cujo santuário se realizaram o simpósio e as celebrações. O agradecimento foi para os presentes, os intervenientes e os que se encarregaram da organização bem conseguida. No envio, falou da alegria do ministério sacerdotal, do presbitério e de toda a missão da Igreja, neste tempo exigente e desafiante.
Em declarações à Agência Ecclesia, D. António Azevedo falou do novo documento de orientação para a formação sacerdotal, em fase de debate e que inclui vários agentes, “sendo que o próprio é também agente de formação”, implicando as comunidades dos seminários, as dioceses, todo o clero, as famílias, e todas as áreas da Igreja.
Numa intervenção de despedida, o Bispo de Leiria Fátima e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa apelou na sequência deste encontro ao trabalho das Dioceses, à procura das atitudes de escuta e discernimento e à colaboração da Conferência Episcopal e de todas as Dioceses nesta dinâmica da evangelização.
O encontro contou com a presença de mais de três centenas de participantes, entre os quais a quase totalidade dos Bispos portugueses, incluindo alguns eméritos. Do Porto, com o Bispo, estiveram presentes 75 sacerdotes.