
O documento resumo dos bispos portugueses sobre o que pensa o Povo de Deus acerca do sínodo, a realizar no próximo ano, é um bom testemunho daquilo que os participantes que, diga-se, não foram muitos, pensa sobre a igreja católica portuguesa. O documento é ousado, mas não faz mais do que expressar o descontentamento sobre a igreja católica portuguesa, não omitindo nada do que foi referido. Peca, penso, por não alinhavar já o que a igreja deve ser transformadora; até porque irá uma distância grande entre o que se escreve e depois se coloca em discernimento e se pratica. Basta verificar os planos pastorais das várias dioceses para sentir que o cheiro agora expresso não encontra sintonia com as mesmas. Será, necessário, penso, que se admita ser este o tempo de transformações na igreja que serão grandes a admitir as falhas expressas no documento, enviado para Roma. Mas foi bom que todos e todas que quiseram participar tivessem uma voz ativa na igreja, quando até aqui a passividade, e por que não a indiferença!, fora constante no Povo de Deus. Não interessará, agora, endereçar culpabilidades, interessa, isso sim, que a igreja se abra ao Espírito de Deus, como neste documento se verifica.
Há quem julgue que será uma destruição da igreja, que aspetos agora mencionado no documento não o deveria ter sido, que a linguagem é destruidora dos valores que a igreja é. Certamente, tiveram oportunidade de se expressarem também nos locais adequados, não o fizeram ou se o fizerem, não expressa a vontade da grande maioria dos participantes. Todos têm direito a pensar, todos podem escutar ativamente, e tantos e tantas que, às vezes, ainda não lhes foi presente o menino Jesus, de Nazaré, o seu amor e a sua misericórdia. Falar em possibilidade de casamento dos padres, em ordenações femininas, em comunidades LGBTQIA+, dos ditos recasados, não é uma negação da igreja de Jesus, mas uma Igreja que caminha caminhando.
Num outro ponto, o documento refere: “uma Igreja com uma atitude demasiado hierárquica, clerical, corporativa, pouco transparente, estagnada e resistente à mudança, que prioriza a manutenção da sua imagem ao invés de preservar a segurança da sua comunidade, surgindo os casos de pedofilia como o exemplo mais evidente”, é nisto que é necessário uma mudança radical, uma Igreja que caminhe ao lado de Jesus ao encontro dos homens e mulheres e não se desvie do que o Espírito Santo quer para a sua igreja.
Do documento para a prática, é o que se exige a todos e todas nós!