Vamos conhecer a nossa terra. (II) – Marco de Canaveses

Por João Alves Dias

O tempo ainda convida…

A nossa viagem continua pelo vale do Tâmega. Agora, com uma paragem no miradouro do Torrão para contemplar o encontro das suas águas com as do Douro. Ao fundo avistámos a ponte que substituiu a “Hintze Ribeiro”. E elevámos a Deus uma oração pelos que morreram na trágica noite (4/3/2001) e seus familiares que ainda hoje choram a sua morte.

Estamos em terras do antigo concelho de Bom Viver. Descemos até ao cais de Bitetos e nossos olhos pousaram nos reflexos da ‘Ilha dos Amores’, na foz do Paiva, que tremeluzem à passagem dum cruzeiro. E lembrei “velhos” amigos…

Em Alpendorada, depois de muito procurar, encontrámos o seu “memorial”, um monumento funerário do século XIII que a tradição liga ao cortejo fúnebre da beata D. Mafalda, do mosteiro de Rio Tinto, onde faleceu, para o de Arouca onde repousa. Descemos ao mosteiro de origens medievais (século XI) e totalmente remodelado nos seculos XVII e XVIII. Das primitivas estruturas românicas apenas restam alguns silhares na sua fachada maneirista.

Em Vila Boa do Bispo, mergulhados no silêncio, admirámos a grandiosidade do seu mosteiro (séc. XII/XIII) e, na sua fachada, duas arcadas cegas caraterísticas do românico bracarense. Fomos surpreendidos pelos contrafortes da parede sul que nos indiciam o primor da sua primitiva construção românica.

Já em Soalhães, fomos recebidos pelo pelourinho, orgulho dos seus habitantes e símbolo do seu poder concelhio até 1852. Na igreja matriz, de raiz românica, realçámos o seu portal protogótico e, no interior, um túmulo do seculo XIII.

Prosseguimos até ao rio Ovelha para, em cima do elegante arco apontado da “Ponte do Arco”, ouvir o marulhar das águas na cascata que lhe banha os pés.

Parámos junto da igreja de Tabuado (século XIII) que conserva muito da sua feição românica, com relevo para a torre sineira e o pórtico principal. Rezei pelo P. Cunha, um amigo e seu carismático pároco, e lembrámos outros amigos que aí repousam. Veio-me à mente a letra que, na minha adolescência, escrevi e que, depois de musicada, foi cantada pelas jovens da Ação Católica: “Tabuado, rosa linda…”

Descemos à antiga vila, sede do concelho de Canaveses. E parámos junto da igreja românica de S. Nicolau (sec. XIV), não longe do local onde D. Mafalda, esposa de D. Afonso Henriques, mandou construir a “Albergaria da Rainha” e uma ponte românica que “assentava em sete arcos circulares”. É celebrada num monumento que diz: “Aos bravos defensores da antiga ponte românica que… conseguiram heroicamente suster o ímpeto dos invasores franceses nos dia 31 de março e 1 de Abril, de 1809, salvando a população do Douro dos malefícios da guerra”. Em 1944, foi substituída por uma outra que foi submersa pela albufeira do Torrão. Na margem esquerda, eleva-se a também românica, igreja de Santa Maria de Sobretâmega. É um local idílico… Bom para descansar e meditar…

Em Vila Boa de Quires, apreciámos a bela igreja românica (séc. XIII) e surpreendeu-nos a grandiosa e inacabada fachada rococó da ‘Casa do Fidalgo’.

Tongóbriga, uma cidade castreja romanizada, e a igreja de Santa Maria, de Siza Vieira, merecem uma visita mais alongada…

O Marco deixa marcas de saudade na memória das suas gentes. Como bem escreveu Ilídio Mota, no poema ‘Marco da Diferença’, publicado no jornal local ‘A Verdade’ (10/1/1990):

“Aqui, só uma vez numa vida/Se foi criança e adolescente/ Se foi jovem, ambição perdida /No alvor do teu sol nascente.”