Mensagem (177): Alma nova

Chesterton, o grande escritor convertido ao catolicismo precisamente há cem anos, dizia a respeito do ano novo: “O objetivo não é um novo calendário. O grande objetivo é criar-nos uma alma nova”.

Vamos começar o novo ano pastoral. Afadigamo-nos em programas complexos, calendarização de muitos sonhos e atividades, pensamentos estruturantes e ações mais ou menos arrebatadoras. Muito bem, pois isso exprime generosidade e desejo de profunda vida cristã. Não obstante, não chega.

Quando Jesus foi a casa de Marta e Maria, o mais lógico era que, aproveitando a profunda amizade delas, lhes traçasse um plano para que, no seu meio local, se tornassem convictas evangelizadoras e arregimentassem toda a vizinhança para a causa da Boa Nova. Não sabemos qual foi o tema da conversa com Maria. Mas a tradição da Igreja sempre viu nesse diálogo o âmbito indispensável da espiritualidade e da mística. Aliás, fortemente valorizado pelo Senhor Jesus: “Marta, Marta, andas afadigada com tanta coisa. Maria escolheu a melhor parte”.

Evidentemente, toda a espiritualidade cristã passa sempre por uma adesão plena à mensagem salvífica e esta traduz-se em intimidade operante com o Mestre. Evangelização e espiritualidade são sempre e só duas facetas conceptuais da mesma familiaridade com o divino. Porém, na prática, parece que esquecemos a segunda vertente em detrimento da primeira.

Tendo isto em conta, o Arcebispo de Milão introduziu o atual programa pastoral da sua Arquidiocese com estas palavras: “Proponho que vivamos este ano –com o sonho de isso se vir a tornar uma prática constante- prestando um especial cuidado à oração. Tenho a impressão que é uma prática descuidada por parte de muitos, porventura vivida mais como sacrifício e peso do que como real necessidade da vida cristã”.

De facto, a oração exprime e potencia a relação com Deus, objetivo último de toda a pastoral. Sem ela, ficam os motivos mais ou menos nobres ou mais ou menos ideológicos, mas não se tocam as razões profundas motivadoras. Uma Igreja que “reza o que crê e crê o que reza” encontra na oração a síntese entre o anúncio e o seu objetivo, a Pessoa anunciada e a sua obra salvífica.

Neste início de ano pastoral, às belíssimas diretrizes do nosso plano, acrescentemos a oração, grande marca da identidade cristã.

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