O Papa disse hoje no Vaticano que a sua viagem ao Canadá, de 24 a 30 de julho, teve momentos “dolorosos”, face aos testemunhos de sofrimento das comunidades indígenas, em particular nas chamadas escolas residenciais, por causa das “políticas de assimilação cultural”.
“Asseguro-vos que nestes encontros, sobretudo o último, senti a dor daquelas pessoas como bofetadas: perderam… idosos que perderam filhos e não sabiam onde tinham ido parar, por causa desta política de assimilação. Foi um momento muito doloroso, mas era preciso dar a cara, temos de dar a cara diante dos nossos erros, dos nossos pecados”, referiu Francisco, no regresso das audiências públicas semanais.
O Papa chegou ao Auditório Paulo VI a caminhar pelo próprio pé, com o apoio de uma bengala, e falou aos presentes da sua 37ª viagem internacional, uma “peregrinação penitencial” ao encontro das comunidades indígenas do Canadá – Primeiras Nações, Métis e Inuítes -, marcada pela “dolorosa memória dos abusos que sofreram”.
Estima-se que 150 mil crianças indígenas tenham sido forçadas a frequentar escolas residenciais, um sistema de orfanato promovido pelo Governo, para a “assimilação” cultural destas populações, entre finais do século XIX e o séc. XX; mais de 60% destas escolas foram administradas pela Igreja Católica.
Em 2015, após sete anos de investigação, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá divulgou um relatório sobre escolas residenciais, revelando que entre 1890 e 1996 mais de 3 mil crianças morreram por causa de doenças, fome, frio e outros motivos.
“Foi uma viagem diferente de qualquer outra. Com efeito, a principal motivação era encontrar os povos originais para lhes expressar a minha proximidade, a proximidade da Igreja, a minha dor, e pedir perdão, pedir perdão pelo mal que lhes foi causado por aqueles cristãos, incluindo muitos católicos, que no passado colaboraram nas políticas de assimilação forçada”.
Durante seis dias, Francisco passou por Edmonton, na parte ocidental do Canadá; pelo Quebeque, na parte oriental; e Iqaluit, no norte, a cerca de 300 quilómetros do círculo polar ártico.
O Papa considera que esta viagem vai permitir “escrever uma nova página, uma página importante, do caminho que a Igreja percorre com os povos indígenas desde há algum tempo”.
“Um caminho de reconciliação e cura, que pressupõe conhecimento histórico, escuta dos sobreviventes, consciência e sobretudo conversão e mudança de mentalidade”, precisou.
Francisco prestou homenagem aos homens e mulheres da Igreja que se assumiram como “corajosos defensores da dignidade dos povos indígenas, protegendo-os e contribuindo para o conhecimento das suas línguas e culturas”.
“Por outro lado, infelizmente, não faltaram aqueles que participaram em programas que hoje compreendemos serem inaceitáveis e também contrários ao Evangelho. Por isso fui pedir perdão, em nome da Igreja”, acrescentou.
No final da audiência, o Papa deixou uma saudação aos peregrinos de língua portuguesa.
“Gostaria de agradecer as vossas orações durante a peregrinação que fiz ao Canadá. Permaneçamos abertos às riquezas dos outros, disponíveis para escutá-los e comprometidos na construção da fraternidade universal. Que Maria nos anime a seguir em frente, caminhando com Jesus Ressuscitado que nos enche de esperança”, declarou.
(inf: Agência Ecclesia)