Domingo XIX do Tempo Comum

7 de Agosto de 2022

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro da Sabedoria                                                                                        Sab 18, 6-9

«Os justos seriam solidários nos bens e nos perigos; e começaram a cantar os hinos de seus antepassados».

 

Salmo Responsorial                                                                                                    Salmo 32 (33)

«Feliz o povo que o Senhor escolheu para sua herança».

 

Leitura da Epístola aos Hebreus                                                                          Hebr 11, 1-2.8-19

«A fé é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se vêem».

 

Aclamação ao Evangelho                       Mt 24,42a.44

Vigiai e estai preparados,

porque na hora em que não pensais

virá o Filho do homem.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas                                   Lc 12,32-48

«Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o reino».

«Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas».

«A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá».

 

Viver a Palavra

Jesus tomou a firma decisão de subir para Jerusalém (Lc 9,51) e prossegue o seu caminho, apontando as coordenadas fundamentais da nossa existência cristã. Ao contrário dos mestres de Israel que ensinam sentados e acomodados, Jesus é o Mestre que ensina no caminho. Peregrino pelos trilhos da vida e da história, Jesus continua a cruzar a Sua vida com a nossa vida e a fazer dos nossos caminhos lugares de encontro com Deus e com os irmãos. O caminho é a metáfora por excelência da vida cristã. Somos homens e mulheres a caminho com os olhos fixos na meta: a Jerusalém celeste, a comunhão plena e perfeita com o Pai. Se para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve, para nós, que sabemos a meta para a qual o Pai nos chama, não podemos abraçar qualquer caminho ou atalho. Não podemos viver de improviso, nem ao sabor de qualquer vento ou maré. Queremos estar vigilantes e despertos, «porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração».

Na verdade, esta é a primeira pergunta que cada um de nós deve fazer a si próprio: onde está o meu coração? O que é que ocupa o centro da minha vida e se constitui como o tesouro mais precioso onde invisto as minhas forças e capacidades?

Diante do ritmo quotidiano, no frenesim dos nossos dias, é fácil dispersar e apontar em tantas direcções. São tantas as fadigas e receios que invadem o nosso coração e que distraem a nossa vida do verdadeiramente essencial que unifica a vida e lhe oferece um horizonte de realização e felicidade que está para lá da fruição imediatista. Por isso, queremos acolher o tesouro inesgotável que nos oferece a felicidade que se inscreve nesse horizonte de realização e felicidade que só Jesus e o Seu amor nos podem oferecer e garantir.

«Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o reino». Não tememos as dificuldades e desafios porque caminhamos como filhos muito amados de Deus a quem é oferecido o Reino. Não somos os mais fortes, mas somos filhos do Deus da força e esta consciência faz-nos percorrer a nossa vida com uma renovada esperança e uma revigorada confiança. A fé que dissipa os nossos medos e nos permite avançar, mesmo no meio de inseguranças e fragilidades, é, efectivamente, «garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se vêem». Acreditar nas realidades que se vêem é render-se à evidência dos dias, mas esperar e confiar como Abraão é depositar toda a esperança, não no caminho a percorrer ou no lugar geográfico para onde se caminha, mas na mão que sustenta a nossa caminhada e aponta o nosso peregrinar.

A fé rasga novos horizontes e permite-nos vislumbrar no aqui e agora do tempo e da história a realização das promessas que Deus fez a nossos pais. Pela fé, os impossíveis da nossa vida tornam-se possíveis, porque é Deus quem conduz a história. Cabe-nos estar despertos e vigilantes para que possamos viver de olhos e coração abertos sobre a humanidade.

É esta a verdadeira sabedoria: acolher a vontade de Deus e encontrar no querer do Pai o nosso querer, para que a nossa vida encontre o caminho da verdadeira felicidade. Em Jesus Cristo, Deus revela-se como o Senhor que se faz servo e que encontrando espaço na nossa vida desperta e vigilante, senta-nos à mesa, passa diante de nós e ensina-nos a arte de nos tornarmos grandes fazendo-nos servos de todos. A alegria do serviço por amor rasga caminhos novos de felicidade e faz da Igreja sinal profético da bondade, da ternura e da misericórdia. O muito depositado em nossas mãos reclama uma vida consentânea com a fé, para que se torne um lugar de fecundidade que difunde ao longe e ao largo a suave fragrância do Evangelho.

 

Homiliário patrístico

Do Comentário de Santo Efrém, diácono,

sobre o Diatéssaron (Séc. IV)

Para impedir que os discípulos O interrogassem sobre o momento da sua vinda, Cristo disse: essa hora ninguém a conhece, nem os Anjos nem o Filho. Não vos compete saber os tempos e os momentos. Quis ocultar-nos isto, para que permaneçamos vigilantes e para que cada um de nós possa pensar que este acontecimento se dará durante a nossa vida.

Se tivesse sido revelado o tempo da sua vinda, esta tornar-se-ia um acontecimento sem interesse e sem esperança para muitos séculos e nações. Disse muito claramente que virá, mas sem precisar o momento; e assim, todas as gerações e todos os séculos O esperam ardentemente.

Embora o Senhor tenha dado a conhecer os sinais do seu advento, não se adverte com exactidão o seu termo, pois que, em mudança contínua, eles apareceram e passaram e por outro lado, ainda perduram. A sua última vinda será, com efeito, semelhante à primeira.

Vigiai, porque, quando o corpo dorme, é a natureza que nos domina, e não é a vontade que dirige a nossa actividade, mas o impulso da natureza. E quando recai sobre a alma um pesado torpor, como, por exemplo, a pusilanimidade ou a tristeza, é o inimigo quem a domina e a conduz contra a sua própria vontade. A força domina a natureza e o inimigo domina a alma.

Por isso, a vigilância que o Senhor prescreveu dirige-se ao corpo e à alma: ao corpo, para que se liberte da sonolência, e à alma, para que se liberte da indolência e pusilanimidade, como diz a Escritura: Sede vigilantes, ó justos; e, também: Levantei-me e ainda estou contigo; e, ainda: Não desanimeis. Por isso não desfalecemos no ministério que nos foi confiado.

 

Indicações litúrgico-pastorais

 

  1. Neste tempo estival onde tantos iniciaram ou vão inciar as suas férias, a Liturgia deste Domingo pode ser a oportunidade para exortar a um tempo de repouso com a marca da vida cristã: viver atentos e vigilantes, saboreando a presença de Deus e acolhendo os homens e mulheres nossos irmãos. A leitura espiritual, a oração mais serena e prolongada, a dedicação a obras de voluntariado e misericórdia são ingredientes fundamentais para saborear as férias como um tempo de graça.

 

  1. Para os leitores: a brevidade da primeira leitura não pode permitir que se descure a sua preparação e reclama um especial cuidado nas frases longas e com diversas orações para uma articulada e assertiva proclamação do texto. A segunda leitura possui um tom narrativo que oferece ritmo à leitura e que deve ser aproveitado para uma proclamação mais eficaz e frutuosa. A expressão «pela fé», repetidas várias vezes ao longo do texto, deve ser proclamada de tal modo que se sinta a força do testemunho de quantos se deixam guiar e conduzir pela fé.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Nós vamos até Vós, Senhor – A. Mendes (CN 661); Salmo Responsorial: Feliz o povo que o Senhor escolheu (Sl 32 (33)) – M. Luís (SRML, p. 312-313); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Vigiai e estai preparados – Aleluia – C. Silva (CN 47); Ofertório: Tomai, Senhor, e recebei – J. Santos (CN 966); Comunhão: Estai preparados – F. Santos (CN 427); Pós-Comunhão: Cantarei ao Senhor – F. Silva (CN 286); Final: Os justos viverão eternamente – M. Faria (CN 775).