
Por João Alves Dias
Fez anteontem um mês…
Bem cedo, o carisma do Padre Luís, de Oliveira do Douro, suscitou a minha admiração (cf. VP, 31/5/2017). Foi, pois com redobrado interesse que, no dia 25 de junho – ‘Festa Litúrgica de Nª. SRª do Monte da Virgem’ – assisti, no santuário, à anunciada ‘conferência’ do Prof. José Moreira Cardoso, integrada na celebração dos 117 anos da bênção da pedra fundante do Monumento à Imaculada e dos 150 anos do nascimento do Pe. Luís.
Mais que uma palestra – “Memórias vivas de infância – a minha gratidão ao Senhor Padre Luís” – foi um testemunho vivo e emocionado que me fez lembrar o dito de Jesus: “A boca fala do que enche o coração” (Mt, 12,34).
Numa narrativa fluente e colorida por vivências da infância, respirava-se a frescura do madrugar. Com que minúcia retratou o seu mestre e ‘pai espiritual’ com quem conviveu “cerca de 12 anos, de 1946 (ano de entrada para a sua escola) até 1957 (ano do seu falecimento)”:
“Fisicamente, era uma figura de baixa estatura, aspecto débil, de carinha arredondada, já com alguma calvície, de óculos finos de aros metálicos arredondados, que ensinou centenas e centenas de alunos. (…) Sempre vestido preto, ora de batina ora de sobrecasaca, em dias de maior frio, enrolava um cachecol também preto, à volta do pescoço”.
E com que ternura afirmou: “O Senhor Padre Luís nunca descurou os mais frágeis economicamente e, entre as suas diligências diárias, dava o seu giro pelas ruas e lugares da freguesia; visitava os mais idosos, doentes, e atendia quem dele se abeirava: pessoas com os mais variados problemas de saúde, falta de emprego, desavenças familiares, etc. ”.
Entrando no núcleo da sua ‘Conferência – Relação do Padre Luís com o Monte da Virgem”, após desenvolver a sua história, concluiu:
“O Senhor Padre Luís foi, de facto, o mentor e fundador do Monte da Virgem, porquanto esteve, particularmente, sempre envolvido na criação e implantação deste lugar, pautando toda a sua vida por uma dedicação inesgotável a este espaço de devoção e culto a Nossa Senhora, Imaculada Conceição. (…) Foi seu capelão, sem qualquer encargo para o Santuário, até que as forças lho permitiram. Em momentos de represálias, de oposições e muitas outras adversidades, que também teve de as enfrentar, nunca ninguém lhe terá ouvido nem queixa nem medo“.
De seguida, esclareceu que o seu testemunho se baseava nos quatro anos em que, a pedido do Senhor Padre Luís, foi “seu ajudante, sobretudo nas Missas de Domingo, no santuário do Monte da Virgem”. Limito-me a realçar três perícopes:
- “O que prendia mais o povo nas celebrações do Senhor Padre Luís era o seu zelo pastoral, litúrgico e eucarístico. Ouvi-o dizer mais ou menos isto: “O sacrifício da Missa era a Fonte primeira da santificação pessoal dos padres”. As suas genuflexões, ao passar diante do sacrário durante as celebrações e ao passar diante do Santíssimo Sacramento, eram modelares e causava certa ternura e piedade ver o esforço que fazia para tocar com o joelho no chão. Fazia-o com alguma dificuldade.”
- “A Homilia era um dos momentos mais aguardados pelos fiéis.
O Senhor Padre Luís tinha muito respeito e cuidado com os fiéis para quem falava. Ele preparava as suas homilias, normalmente, com três ideias-base, extraídas quase sempre das leituras próprias do domingo e que poderiam conduzir o ouvinte a consolidar o conteúdo das leituras.”
- “O momento da comunhão do Senhor Padre Luís era um exemplo de atitude que servia de modelo a quem ia comungar. Era tocante ver o Senhor Padre Luís distribuir a comunhão. (…) Percebia-se que sentia felicidade e alegria de celebrar a Miss”
Ao terminar, faço-me eco do apelo deixado pelo conferencista: “Se algum significado pode vir a ter, permita-me que proponha que a Diocese do Porto lance um repto ao Conselho Científico da Universidade Católica no sentido de promover um estudo científico a nível de Mestrado ou até Doutoramento sobre esta figura da História da Igreja que, nas suas múltiplas dimensões, merece e exige um estudo e investigação clara e clarificadora.”
O meu obrigado para o Professor José Moreira Cardoso e para o Pe. Vitor Ramos que o convidou.