Quando o apêndice ao texto é o mais importante

Por Joaquim Armindo

Atentamente li o Plano Diocesano do Porto para o próximo ano pastoral e fiquei surpreendido com o Apêndice ao mesmo. Na minha opinião, é um texto com uma importância bastante acentuada, não desmerecendo o próprio plano. São, de facto, as dezassete perguntas insertas em apêndice aquilo que poderá dar o ser ao próprio plano, porque são atuais e severamente brutais, pelo seu conteúdo que, não sendo surpreendente, surgem como perguntas atendíveis aos tempos que atravessamos. Sem resposta a elas poderemos continuar com os planos pastorais anuais que, até, não sujeitos a avaliação, pelo menos informada a todas as partes interessadas, e com o seu contributo, não passarão naquilo que é traduzido pela palavra “sinodalidade”. Tantas vezes os “pé-de-página”, ou os anexos ou os apêndices, nos ensinam muito mais que os próprios textos; o que acontece neste plano pastoral diocesano é, para mim, exatamente, o apêndice, o que me atrai, o que me coloca em questão, o que fará florir todos os projetos, que, tantas vezes!, não vêm escritos nos corpos principais dos textos.

Não poderemos aqui explanar todas as dezassete perguntas, vamos a algumas, logo à primeira: “Nas nossas Paróquias, há equipas de acolhimento, para as celebrações, sobretudo do Batismo, da Eucaristia, do Matrimónio, das Exéquias, onde participam tantos convidados que estão de fora e para quem a liturgia se torna tantas vezes inóspita?” Que respondam as comunidades, numa sinodalidade ativa e atuante, nunca muda e se em algumas celebrações as igrejas estão “cheias” de pessoas, não significa, porém, que estejam a digerir o que nelas se diz. Muito pelo contrário, são as homílias que ninguém ouve, o que é natural devido ao tempo e à gramática usada. Então nas exéquias quem fala é quem as dirige, por si e por quem “assiste”; as comunidades não estão presentes. Um vazio se sente, quando estamos falando para ninguém ouvir, Deus ouve, sabemos, mas temos o dever de todos serem acolhidos, principalmente aqueles e aquelas que não fazem parte da comunidade.

Uma outra: “Que respostas a novas pobrezas estamos a descurar? Como as podemos articular na nossa pastoral?” São todos os tipos de pobreza, até o empobrecimento que estamos a fazer do nosso cosmos comum. Até onde nos preocupamos com isso, e conhecemos que não serão com as apatias que essa pobreza se combate. O combate que descuramos ao ataque todos os dias disferido contra a “nossa casa comum” é um perfeito assassinato aos outros tipos de pobreza. Uma pergunta incómoda, quantas emissões de dióxido de carbono a nossa comunidade emite? Como as combater?

Este texto não tem um fim…!