
Por João Alves Dias
Quando fui à ‘Casa Sacerdotal’ (cf. VP, 21/6), o P. Soares Jorge ofereceu-me o livro “Súmula Biográfica do Padre Américo” que evoco no 66º aniversário da morte (16/7/1956) desta “figura cimeira da Igreja em Portugal no século XX”.
Ao lê-lo, parei na página 10: ”Com 15 anos, foi para uma loja de ferragens, a vender ferros, na rua Mouzinho da Silveira, perto do seminário da Sé, no Porto”.
A primeira notícia que tive desta vinda do jovem Américo para o Porto, apenas referia “uma loja de ferragens”. Mais tarde, soube que essa loja se situava na Rua de Mouzinho da Silveira. Só há bem pouco tempo é que vi referido o número 112.
Numa rua longa, que vai da estação de S. Bento quase até à Ribeira, onde ficaria esta porta?- interroguei-me. Curiosos, fomos à sua procura. A partir da Praça Almeida Garrett, descemos a rua em direção à Praça do Infante. Até que nos deparámos com o número procurado. Surpresa e emoção. Estávamos no local onde, todas as manhãs, íamos buscar os netos para levar à escola e ao jardim infantil. A loja em que o P. Américo trabalhou fica no rés-do-chão do edifício onde moram. Mais um encontro com o Padre Américo…que morreu, vítima dum desastre na minha terra.
Ainda não tinha essa referência quando escrevi para o livro comemorativo dos ‘50 Anos, em Comunidade a Evangelizar e Servir’ do P. Jardim, como pároco de S. Nicolau: “Em 1960, comecei a calcorrear, como jovem vicentino, as ruas que escorrem para o rio e a entrar nos tugúrios onde penavam doentes e pobres se apinhavam. A memória do «Pai Américo», falecido quatro anos antes, permanecia viva nestas ruas do burgo medieval que ele bem cedo começou a conhecer. Foi em 1902, quando, quase-menino, veio “vender ferros”, como dizia sua mãe, para uma casa da rua de Mouzinho da Silveira.”
No entretanto…
Já a conhecia quando, na apresentação desse livro (25/9/2021), propus, a pedido dos organizadores, ”pequenos textos evocativos de figuras importantes da Igreja do Porto que marcaram a vida do padre Jardim Moreira, como o bispo D. António Ferreira Gomes e o padre Américo Aguiar, fundador da Obra da Rua”(VP, 28/9/2022):
“Todos nós já ouvimos falar do Venerável Padre Américo como o ‘Apóstolo do Barredo’. O que talvez nem todos saibam é que o jovem Américo, com apenas 15 anos, veio trabalhar numa loja de ferragens que, então, ocupava os números 110 e 112 da rua de Mouzinho da Silveira que pertence a esta paróquia de São Nicolau.
Frequentava a igreja de São Lourenço (Grilos) onde se ia confessar e ajudar à Missa. Foi crismado na Sé pelo também Venerável, D. António Barroso. Foi nesta época que conheceu o então Vigário da Diocese, Dr. Manuel Luís Coelho da Silva.
E este encontro foi providencial. Sem ele, talvez nunca houvesse o Padre Américo. E porquê?
Quando mais tarde, já com cerca de 38 anos, quis entrar no seminário para ‘estudar para padre’, veio falar com D. António Barbosa Leão, bispo do Porto nessa altura, que não o aceitou porque, disse, tinha tido muitas desilusões com as vocações tardias. E quem acabou por o admitir e ordenar presbítero (28/7/1929), já com 42 anos? Precisamente D. Manuel Luís Coelho da Silva que, entretanto, fora sagrado bispo de Coimbra. Foi ele quem, como escreveu o P. Américo, lhe deu as Ordens Sacras, o fez sacerdote: o maior de todos os títulos, para a maior de todas as gratidões”.
Talvez… Talvez… Que sabemos nós? “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55,8).