Mensagem (174): Desmaterialização

A pandemia confrontou-nos com um aspeto a que não estávamos habituados: o teletrabalho. Teve de ser. Pela sua novidade encantou muitas pessoas. As empresas, sempre hábeis a explorar redução de custos, aderiram a este sistema e várias tentaram impô-lo para o futuro.

A situação que se viveu nos anos 2020 e 21 apenas veio acelerar um processo que já se tinha tornado crónico em alguns âmbitos: o privilegiar as comunicações interpessoais pelos meios digitais, a realidade virtual tornada «real», o desenvolvimento espantoso das redes sociais das frivolidades e do descarregar da violência interior, etc.

Mas, além do trabalho, existem outros setores que investem nisto (quase?) a cem por cento: compras on-line, telemedicina, cursos universitários à distância, robotização das intervenções cirúrgicas, «visitas» a doentes internados nos hospitais ou nos lares da terceira idade exclusivamente por zoom, reuniões e cimeiras, etc. E os governantes, quase sempre mais aptos a cavalgar a onda que a discernir as reais vantagens e inconvenientes, apressam-se a endeusar o «mundo novo» da transição digital e da transformação de todas as relações sociais.

Só que este conceito reporta-se diretamente à noção de desmaterialização. A matéria tem as suas leis, bem conhecidas por nós, que também o somos. As duas principais são o espaço e o tempo. Desmaterializar, significa tornar tudo acessível, independentemente da distância e do momento do acontecido. E alguns encantam-se com isto e com a fuga do mundo real e das suas asperezas.

Vamos com calma. Não sei se os riscos compensam as vantagens. Eis alguns: desumanização das relações sem a ternura dos afetos físicos; desprezo da unicidade pessoal, pois a informática é niveladora; incapacidade de gerir a multiplicidade das informações e de reflexão pessoal; desprezo do real e nova ambiência do ficcional; incomunicabilidade tu a tu; atomização do trabalhador, sem a «proteção» dos colegas; etc.

Desmaterialização total? Por mim, não. Ou apenas na vida eterna. Como espírito encarnado ou corpo que também sou, não creio que algo possa substituir a visão e a audição de proximidade, a voz de empatia, o sabor e o olfato e todos os outros sentidos com que Deus me dotou para servirem de base à harmonia e à felicidade. Um ecrã é um meio, mas jamais um fim.

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