
Por Joaquim Armindo
Percorrendo o documento síntese da auscultação diocesana do Porto sobre o Sínodo dos Bispos, é necessário, agora, trabalhar para o que foi discutido e refletido em todos os grupos – que, diga-se, foram poucos – para que as opiniões não caiam em terreno infértil e esquecido, como, aliás, é normal em situações – não tão profundas, é certo – similares. Por isso, adianta o documento que “Importa, agora, questionar que aspetos da vida da Igreja Católica necessitam de ser imersos num verdadeiro processo de conversão e que propostas significativas foram apresentadas, nesta recolha sinodal, que mereçam ser estudados, debatidas e implementadas? Os aspetos a necessitar de conversão, sobressaem nos pontos negativos da igreja e, evitando uma desnecessária repetição, ficam expressos nos grupos de propostas que se passam a apresentar”, e o documento elenca uma série de propostas. É necessário, contudo, ter a noção que o documento síntese é isto mesmo, uma síntese, e não o repositório de todas as matérias que os vários grupos refletiram. Compete aos grupos não se dispersarem e darem o trabalho por concluído, porque esse trabalho está para lá do que for analisado no Sínodo dos Bispos, e é disto que se trata, um Sínodo dos Bispos, onde serão colocadas algumas das questões levantadas.
Deixo aqui mais duas questões que o documento síntese alerta: uma primeira, onde se diz: “Também fraturantes são as propostas abundantes de tornar opcional o celibato dos sacerdotes e da ordenação de homens casados e de mulheres”. Sem dúvida que será fraturante na Igreja Católica Romana, que não na Igreja Cristã. Existem inúmeras tradições religiosas onde esta questão está ultrapassada. Não esqueçamos, porém, as palavras insertas na síntese, onde se refere que esta preocupação possui “propostas abundantes”. Ora tal não poderá ser esquecido e motivo duma não-inscrição no debate contínuo de uma igreja em movimento. É particularmente interessante que assuntos como estes estejam presentes na vontade do Povo de Deus, quiçá movido pelo Espírito do Senhor.
Uma outra questão é quando o documento refere: “Discute-se muito o tema do clericalismo, presente na articulação do ministério dos presbíteros, dos diáconos e da participação dos leigos, em especial das mulheres. Apesar de se constatar que a maioria dos grupos é dirigido por mulheres, discute-se a sua participação de pleno direito em lugares de decisão. Em contraponto, é muito referido o excessivo protagonismo de alguns leigos, face a um desejo manifesto de maior proximidade e comunhão entre todos, sem autoritarismo de ninguém.” Penso, destas questões colocadas, primeiro que o clericalismo é de todos, também presente nos bispos, e, segundo, de que “são sempre os mesmos protagonistas” leigos a assumir funções de “clericalismo”, que é necessário expurgar.
Ler este documento não é só comentá-lo, mas refleti-lo como um dom do Espírito Santo. É aí que está a nossa atuação, hoje e aqui e agora?