
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
O terceiro dia do Encontro Mundial de Famílias, que teve lugar em Roma de 22 a 25 de junho, teve como momento forte a apresentação por Gabriella Gambino (subsecretária do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida) de um documento publicado no passado dia 15 de junho em espanhol e italiano: Itinerários catecumenais para a vida matrimonial. Com este documento, o Dicastério procurou responder a uma recomendação insistente do Papa Francisco: repensar os itinerários de preparação para o Matrimónio em perspetiva catecumenal.
O próprio Papa assina o prefácio desta nova «ferramenta pastoral oferecida «aos pastores, aos esposos e a todos os que trabalham na pastoral familiar»: «é urgente aplicar concretamente tudo o que já foi proposto na Familiaris Consortio (n. 66). Do mesmo modo que o catecumenado é parte do processo sacramental para o batismo de adultos, assim também a preparação para o matrimónio se deve converter numa parte integrante de todo o processo do matrimónio sacramental, como um antídoto para evitar a proliferação de celebrações matrimoniais nulas ou inconsistentes» (Francisco cita aqui um seu discurso à Rota Romana, de 21 de janeiro de 2017).
Considera o Papa que uma preparação demasiado superficial para o matrimónio expõe os nubentes ao risco de contrair um matrimónio nulo ou com alicerces tão débeis que não resista ao embate das primeiras crises. O sofrimento e as feridas provocadas por esses fracassos podem levar à perda de fé na própria vocação ao amor, inscrita pelo Criador no coração do ser humano.
A esta razão, Francisco acrescenta um dever de equidade: se a Igreja investe tanto tempo e recursos na formação dos candidatos ao ministério sacerdotal e à vida religiosa não pode ser tão omissa em relação à grande maioria dos seus filhos que seguem o caminho do matrimónio. «É um dever de justiça para a Igreja mãe dedicar tempo e energias para preparar aqueles que o Senhor chama a uma missão tão grande como é a família».
Foi por tais razões que Francisco «aconselhou a realização de um verdadeiro catecumenado para os futuros esposos, que inclua todas as etapas do caminho catecumenal: os tempos de preparação para o matrimónio, da sua celebração e os anos imediatamente sucessivos». O documento apresentado inclui, precisamente, essas 3 etapas: preparação (remota, próxima e imediata); celebração do casamento; acompanhamento dos primeiros anos de vida conjugal.
Efetivamente, os itinerários agora propostos apresentam um percurso articulado que começa com uma fase de preparação remota para o matrimónio, já a partir da catequese da infância, uma fase de preparação próxima com a duração aproximadamente de um ano, e uma preparação imediata focada na celebração do casamento. E esse caminho não se esgota no dia do casamento. Este, mais do que ponto de chegada, é o início da vida esponsal em que marido e mulher adquirem uma renovada identidade cristã, tal como acontece com os sacerdotes e os religiosos aquando da sua ordenação ou Profissão religiosa. E nesta vida, terão necessidade de ser acompanhados.
Os itinerários agora apresentados são «um dom e uma tarefa». Por um lado, «põem à disposição de todos um material abundante e estimulante». Mas não se trata de fórmulas mágicas com efeito automático. «É um fato que deve “ser talhado” à medida das pessoas que o hão-de vestir». Efetivamente, as orientações agora oferecidas terão de ser «recebidas, adaptadas e aplicadas nas situações sociais, culturais e eclesiais concretas de cada Igreja particular». Por isso, Francisco apela à docilidade, zelo e criatividade dos pastores e de quantos colaboram na pastoral familiar.
O objetivo deste documento, conforme se esclareceu no Encontro Mundial das Famílias, é renovar a preparação para o matrimónio das próximas gerações e acompanhar os jovens na sua vocação. Não se trata de um «curso» acabado mas de um instrumento que terá de ser adaptado com liberdade e inteligência às diferentes situações. Na sua essência, este catecumenado – foi dito – é um percurso de acolhimento por parte da comunidade que há de saber acompanhar, proteger e encorajar os seus filhos na caminhada vocacional específica do matrimónio.