Domingo XV do Tempo Comum

10 de Julho de 2022

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro do Deuteronómio                                                        Deut 30, 10-14

«Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática».

 

Salmo Responsorial                                                                                Salmo 18 B, 8-11

«Os preceitos do Senhor alegram o coração».

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses                  Col 1, 15-20

«Cristo Jesus é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura».

 

Aclamação ao Evangelho           cf. Jo 6, 63c.68c

Aleluia.

As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida:

Vós tendes palavras de vida eterna.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas              Lc 10, 25-37

«Mestre, que hei-de fazer para receber como herança a vida eterna?».

«Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo».

«Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o mesmo».

 

Viver a Palavra

No mais profundo do coração de cada homem e de cada mulher reside um desejo de vida em plenitude, um horizonte de realização e felicidade que tenha sabor de eternidade e nos ofereça a alegria nova que se constrói a partir do amor oferecido e recebido de modo pleno, total e disponível. Por isso, colocamo-nos a caminho com Jesus e queremos descobrir os traços do discípulo que nos farão entrar na nova lógica do Reino.

Jesus, caminhando decididamente para Jerusalém, ensina-nos o modo novo de ser discípulo pela prática concreta da caridade, num amor absolutamente centrado em Deus e universalmente alargado aos irmãos. É urgente aprender a arte de se fazer próximo, promovendo uma verdadeira cultura do encontro.

Estamos no centro do Evangelho de Lucas e contemplamos uma parábola absolutamente decisiva para compreender o nosso ser cristão. No centro da parábola está um homem e um apelo absolutamente decisivo: «amarás». Amarás a Deus e ao próximo, amarás a Deus no próximo e farás a experiência do Deus próximo que em Jesus Cristo se faz Bom Samaritano para curar a humanidade ferida.

Jesus narra esta parábola interpelado por um doutor da lei que se aproxima dele para O experimentar. Porém, para Jesus é indiferente a motivação pela qual este doutor da lei o interroga. Para Ele, o mais importante é não deixar escapar esta oportunidade de acolhimento e encontro.

Como seria bem diferente a nossa acção pastoral, sobretudo diante daqueles que se aproximam de nós procurando qualquer serviço ou favor eclesial, se ao invés de perdermos tempo a pensar sobre a sua intenção, fizéssemos dessa aproximação uma decisiva oportunidade de acolhimento e encontro. Jesus não julga a pergunta daquele homem, mas desafia-o a colocar-se a caminho e a colocar-se em questão. Jesus começa por se fazer próximo daquele doutor da lei, compadece-se dele, liga-lhe as feridas da sua presunção e verte-lhe o vinho de uma nova interpretação do amor e da vida.

É muito curioso o modo como este doutor da lei formula a sua pergunta: «Mestre, que hei-de fazer para receber como herança a vida eterna?». Ele não pergunta o que devo saber, mas o que devo fazer e situa a pergunta precisamente na nova lógica do amor que se deve traduzir numa acção concreta: «faz isso e viverás». Além disso, ele pergunta o que deve fazer para «receber» como herança a vida eterna. Na verdade, a vida eterna, a felicidade que tem sabor de eternidade, não se conquista pelos nossos méritos, mas acolhe-se como dom.

Deste modo, ser discípulo é sentir-se amado de modo único e irrepetível e não permanecer indiferente a esse amor que transforma a nossa vida. É deixar-se fascinar por este modo ternurento de Deus se relacionar connosco e colocar-se a caminho para que ninguém fique esquecido na beira do caminho. O amor a Deus e ao próximo que somos chamados a viver inaugura um novo decálogo. Nos dez verbos encontrados nesta parábola encontramos o caminho a seguir: viu-o, compadeceu-se, aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitou, colou-o na montada, levou-o, cuidou, pagou e por fim afirmou: no regresso pagarei.

Este é o caminho novo da felicidade que nos permite inaugurar no tempo e na história uma nova fraternidade, onde as dores e sofrimentos do outro não me são alheios, mas reclamam de mim, atenção, compaixão, presença e cuidado. Importa nunca esquecer que na estrada que percorremos de Jerusalém para Jericó, posso ser o sacerdote, o levita, o desvalido do caminho, o samaritano ou até mesmo um dos salteadores. Quem quero ser neste caminho?

 

Homiliário patrístico

Das Cartas de São Máximo Confessor, abade (Séc. VII)

O Verbo divino não Se limitou a curar as nossas enfermidades com o poder dos seus milagres. Tomou sobre Si a nossa fragilidade, libertou-nos dos nossos muitos e gravíssimos pecados, pagou a nossa dívida mediante o suplício da cruz, como se fosse Ele o culpado, quando na verdade estava livre de toda a culpa. Além disso, com muitas palavras e exemplos nos ensinou a imitá-l’O na bondade, na compreensão e na perfeita caridade fraterna.

A este propósito contou a parábola do bom samaritano: àquele homem que caíra nas mãos dos salteadores e fora despojado de todas as suas vestes, maltratado e deixado meio morto, ligou-lhe as feridas, tratou-as com vinho e azeite e, tendo-o colocado no seu jumento, levou-o à estalagem para lhe prestarem assistência; pagou os primeiros cuidados e prometeu satisfazer no regresso a todos os gastos restantes. E assim exclamava: Vinde a Mim, vós todos que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. E ainda: Tomai o meu jugo sobre vós; chama jugo aos seus mandamentos, isto é, à vida segundo os preceitos do Evangelho; e, chamando-lhes também carga, porque a penitência dá um aspecto mais pesado e duro, acrescenta: O meu jugo é suave e a minha carga é leve.

Outra vez, querendo ensinar-nos a justiça e a bondade de Deus, exorta-nos com estas palavras: Sede santos, sede perfeitos, sede misericordiosos, como o vosso Pai celeste. E de novo: Perdoai e sereis perdoados. E ainda: Tudo quanto quiserdes que vos façam os homens, fazei-lho vós também.

 

Indicações litúrgico-pastorais

 

  1. A Liturgia da Palavra deste Domingo aponta uma dimensão fundamental da vida cristã: a caridade. Para os baptizados a caridade não é mais uma coisa a fazer, mas o modo como fazem e realizam todas as coisas. O amor cristão vive-se na realidade concreta dos nossos dias, num amor absolutamente centrado em Deus e universalmente alargado aos irmãos. O Evangelho recorda-nos que como cristãos, não podemos viver indiferentes às dores e sofrimentos daqueles que connosco se cruzam na estrada da vida. Deste modo, este Domingo constitui-se como uma oportunidade para desafiar os fiéis a viverem com os olhos e o coração abertos sobre o mundo e sobre a realidade para responder com generosidade e solicitude. Além disso, a celebração comunitária pode ser uma oportuna ocasião para recordar os diferentes grupos e iniciativas comunitárias de apoio aos mais carenciados da comunidade.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura é constituída pelo discurso de Moisés ao povo, exortando-os a escutar a voz de Deus e a colocar em prática os seus desafios. Deste modo, a proclamação desta leitura deve ter presente este tom exortativo e exige uma particular atenção às duas interrogações que são introduzidas pela expressão: «para que precises de dizer». A segunda leitura é um hino cristológico, provavelmente tomado por Paulo da liturgia das primeiras comunidades cristãs. Este texto não apresenta nenhuma dificuldade aparente, mas é necessária uma cuidada preparação das pausas e respirações sobretudo nas frases mais longas que possuem diversas orações.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Conduzi-me, Senhor – T. Sousa (CN 311); Salmo Responsorial: Procurai, pobres, o Senhor (Sl 68 (69)) – M. Luís (SRML, p. 304-305); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | As vossas palavras, Senhor  – Aleluia – A. Cartageno (CN 49); Ofertório: Onde há caridade e amor – M. Luís (CN 766); Comunhão: Se cumprirdes os meus mandamentos – C. Silva (CN 899); Pós-Comunhão: Crê em Jesus – T. Sousa (CN 318); Final: Felizes os que habitam – B. Sousa (CN 487).