Mensagem (172): Dinamismos

O poder, especialmente o político, consiste sempre na demarcação de um “espaço” social que tenta preservar. Raramente pensa em termos de tempo: não se preocupa com verdadeiras reformas, mas em «não fazer ondas» para conservar a maioria obtida. E corta com o passado: sempre diz mal de quem o precedeu.

A Igreja, pelo contrário, assenta na continuidade. Por natureza, o seu passado é assumido como parte de si: penitencia-se pelos períodos em que não foi fiel e exulta com aqueles em que a sua ação se manifestou em comprovada santidade. E dá crédito à frase de Francisco: “O tempo é superior ao espaço”.

Por isto, ao contrário do poder, é típico da Igreja gerar processos ou dinamismos de mudança. Não se centra no imediato, mas advoga transformações que começando agora, se projetam no futuro de forma irreversível e inalienável. Uma delas chama-se sinodalidade.

Que atitudes devem presidir a essa atuação para vencer rotinas e contrariar inércias? Várias Mas algumas parecem determinantes.

Antes de mais, saber escutar. O próprio Papa cita um aforismo clássico: “O que diz respeito a todos, deve ser tratado por todos”. Obviamente, não no sentido do parlamentarismo moderno: estabelecer maiorias para que a decisão tenha valor. Aqui é no sentido de alargamento de visões, pois o Espírito sopra onde quer. Em todos.

Psicologicamente, deve predominar a abertura à novidade. Em Igreja, o pior que pode acontecer é refugiar-se na ideia de que “sempre se fez assim”. Até porque, mudando as circunstâncias históricas, tem de mudar o procedimento.

Não há renovação sem compromisso. Grande «erro» histórico foi confiar ao clero a totalidade dos destinos da fé. Isso «desocupou» ou descomprometeu os leigos. Pense-se no judaísmo ou no islão: a não existência de uma «hierarquia» ordenada empenha a totalidade dos crentes.

E há que cultivar a fé. Em todo o povo de Deus repousa a garantia da sua autenticidade. Falamos mesmo em “sentido da fé”. O problema é o seu discernimento e implicações. O que é difícil. Aliás, a noção de discernimento remete para sabedoria. Sem esta, ficam as banalidades típicas da comunicação de massas.

O cristão é ser de tempo e cultura. Não demarca espaços seus, mas assume dinamismos. Dá corpo a uma Igreja que ou é sinodal ou centro de poder. Tertium non datur.

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