
3 de Julho de 2022
Indicação das leituras
Leitura do Livro de Isaías Is 66, 10-14c
«Farei correr para Jerusalém a paz como um rio e a riqueza das nações como torrente transbordante».
Salmo Responsorial Salmo 15 (16)
«A terra inteira aclame o Senhor».
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas Gal 6, 14-18
«Longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo».
Aclamação ao Evangelho Col 3, 15a.16a
Reine em vossos corações a paz de Cristo,
habite em vós a sua palavra.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas Lc 10, 1-12.17-20
«Designou o Senhor setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir».
«Quando entrardes nalguma casa, dizei primeiro: Paz a esta casa».
«Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos Céus».
Viver a Palavra
O Povo que regressa do exílio da Babilónia recebe, pela boca do profeta, a anúncio da paz, da salvação e da justiça que se manifestará numa Sião apresentada como mãe, pois Jerusalém se tornará um lugar de consolação e júbilo. Contudo, este feliz anúncio confiado ao Povo de Israel deve ecoar em todos os lugares e deve chegar a todos os corações, por isso, na plenitude dos tempos, na revelação operada por Jesus Cristo, Ele envia setenta e dois discípulos como mensageiros da paz e da alegria.
O envio dos setenta e dois discípulos é um exclusivo do Evangelho de S. Lucas e sublinha a qualidade missionária deste Evangelho, que faz missionários não apenas os Doze mas todos os discípulos de Jesus. O número setenta e dois representa a totalidade das nações da terra, pois na tradição hebraica era este o número das nações que ocupavam a superfície da Terra. Deste modo, a missão confiada por Jesus, que deve chegar a todos os povos e nações, envolve todos os homens e mulheres e constitui cada baptizado como um discípulo missionário.
Além disso, a imensa seara que somos chamados a evangelizar será sempre maior do que os trabalhadores disponíveis para a missão, contudo, esta consciência não pode ser lugar de desânimo, mas a certeza de que a nossa fragilidade e debilidade quando colocadas ao serviço do Evangelho realizarão muito mais do que aquilo que as nossas forças humanas, por si próprias, seriam capazes de realizar.
Os discípulos não partem sozinhos, mas são enviados dois a dois porque a sua comunhão e fraternidade são já anúncio do Reino. Juntos testemunham que a alegria da comunhão e a riqueza da fraternidade são a marca distintiva do Evangelho que os seus lábios anunciam.
Jesus envia-os «como cordeiros para o meio de lobos». O cordeiro é um animal dócil e pacífico e é precisamente nesta atitude que Jesus os envia, para que a mansidão e a ternura sejam o mais belo sinal da novidade do Evangelho que eles vão anunciar. Além disso, na riqueza semântica do aramaico talya’ significa cordeiro, mas também servo, pão e filho. Nestas quatro palavras encontramos um belíssimo programa de vida para a nossa missão ao serviço da Igreja e do Mundo. Ser cordeiro manso e dócil que coloca o Seu olhar em Jesus, o Bom Pastor, reconhecendo-O como único Senhor da sua vida. Ser servo, reconhecendo que a nossa missão se constitui como serviço humilde para que no mundo possa despontar a alegria do Evangelho. Ser pão, ao jeito de Jesus que se fez pão partido e repartido para a salvação de todos. Ser filho, testemunhando a alegria de invocar a Deus como nosso Pai, inaugurando no tempo e na história uma nova fraternidade.
Deste modo, mais do que uma doutrina ou um discurso a proclamar, Jesus confia aos Seus discípulos um novo estilo de vida que será anunciador da novidade do Reino. Jesus não envia missionários a levar alimentos, roupa e dinheiro aos necessitados, mas envia homens sem dinheiro, sem provisão de alimentos e despojados. A única coisa que devem levar é o anúncio da proximidade do Reino e a urgência da conversão.
«Ide: Eu vos envio». Hoje, estas palavras são dirigidas a cada um de nós. Baptizados em Cristo, ungidos pela força do Espírito Santo e alimentados pelo Pão da Eucaristia somos enviados como discípulos missionários para comunicar a alegria do encontro com Jesus Cristo: «aquilo que descobriste, o que te ajuda a viver e te dá esperança, isso é o que deves comunicar aos outros» (EG 121).
Homiliário patrístico
Das Homilias de São Gregório Magno, papa, sobre os Evangelhos (Séc. VI)
Ouçamos o que diz o Senhor ao enviar os pregadores do Evangelho: A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe. Os trabalhadores são poucos para messe tão grande; não podemos falar nesta escassez de operários do Evangelho sem deixar de sentir uma profunda tristeza, pois embora haja quem esteja disposto a escutar a Boa Nova, faltam os pregadores. O mundo está cheio de sacerdotes, mas são raros os que encontramos a trabalhar na messe de Deus. Recebemos o ministério sacerdotal, mas não cumprimos as exigências desse ministério.
Há outra coisa, caríssimos irmãos, que me aflige profundamente na vida dos sacerdotes; mas para que a ninguém pareça injurioso o que vou dizer, acuso-me também a mim mesmo, apesar de me encontrar neste lugar, não por minha vontade, mas obrigado por este tempo calamitoso em que vivemos. Somos arrastados muitas vezes para assuntos profanos, o que não corresponde às exigências da missão sacerdotal. Abandonamos o ministério da pregação e, para nossa vergonha, continuamos a chamar-nos bispos, tendo de bispos o título honorífico mas não a virtude. Abandonam a Deus os que nos foram confiados e calamo-nos. Vivem imersos no pecado e não estendemos a mão para os corrigir e salvar.
Mas como podemos nós corrigir a vida dos outros, se descuidamos a nossa? Envolvidos nos cuidados mundanos, vamo-nos tornando tanto mais insensíveis às realidades interiores do espírito, quanto mais nos dedicamos às coisas exteriores do mundo. Com razão diz a santa Igreja a propósito dos seus membros enfermos: Puseram-me a guardar as vinhas e não fui capaz de guardar a minha própria vinha. Escolhidos como guardas das vinhas, não guardamos sequer a nossa vinha, porque, entregando-nos a actividades estranhas, descuidamos os deveres do nosso ministério.
Indicações litúrgico-pastorais
- Na nossa diocese, o segundo Domingo de Julho é dia de ordenações e, por isso, dia de celebrar a graça do ministério ordenado que o Senhor oferece à Sua Igreja como lugar de serviço aos irmãos. Deste modo, o Domingo XIV do Tempo Comum, que antecede o Domingo das ordenações, constitui-se como uma oportunidade para rezar por aqueles que serão ordenados no dia 10 de Julho e desafiar os fiéis a ter esta intenção na sua oração ao longo desta semana. Acolhendo o pedido de Jesus no Evangelho deste Domingo – «pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara» – cada comunidade paroquial poderá organizar ao longo desta semana um momento comunitário de oração pelas vocações e de modo particular por aqueles que serão ordenados para o serviço da nossa diocese.
- Para os leitores: a primeira leitura é um convite à alegria e ao júbilo, por isso, a proclamação deste texto deve ser marcado pelo tom alegre e gaudioso de que o Senhor salvará o Seu povo e manifestará as Suas maravilhas. A segunda leitura não apresenta nenhuma dificuldade aparente na sua proclamação, mas requer uma acurada preparação para que toda a expressividade do texto esteja presente na sua leitura.
Sugestões de cânticos
Entrada: Jerusalém, louva o teu Senhor – C. Silva (CN 550); Salmo Responsorial: A terra inteira aclame o Senhor (Sl 65 (66)) – M. Luís (SRML, p. 302-303); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Reine em vossos corações – Aleluia – C. Silva (CN 47); Ofertório: Na hóstia sobre a patena – C. Silva (CN 633); Comunhão: Saboreai como é bom – A. Cartageno (CN 869); Pós-Comunhão: Senhor, trazei-nos a paz – Az. Oliveira (CN 916); Final: Deus fala de paz – F. Santos (CN 359).