Enquanto nossos professores forem vivos…

Por João Alves Dias

No dia em que a mãe faleceu – “o dia mais triste da sua vida”- D. António Ferreira Gomes disse aos padres que estavam com ele em Roma: “Quando nossos pais morrem, nós deixamos de ser meninos”.

Esta afirmação do “famoso bispo do Porto”, como lhe chamou o papa João Paulo II, foi evocada na reunião anual do ‘Curso dos Seminários do Porto de 1951-1963’, no dia 27 de maio, no Santuário do Monte da Virgem.

São encontros de “velhos amigos” que nos propiciam emoções fortes e contraditórias:

Alegria – O facto de ver, face a face, rostos que nos acompanham há mais de 70 anos, dá-nos, só por si, felicidade e uma alegria interior que as palavras não exprimem.

Tristeza – Os sinais de decrepitude que se vão acentuando nos companheiros presentes e a ausência de outros que já partiram ou estão doentes fazem pairar sobre nós uma neblina de sofrimento.

Nostalgia – Nas palavras e memórias sente-se o apelo nostálgico do passado e suas reminiscências. Para reviver esses momentos, cantámos alguns dos motetes gregorianos que então cantávamos. E com que emoção o fizemos… Também o local fez-nos evocar os passeios semanais do Seminário de Trancoso quando o padre – perfeito nos dizia: “Três a três – Monte da Virgem”…

Estima e Gratidão – Na Eucaristia, presidida pelo P. Correia Fernandes e concelebrada pelos Padres Damião, Avelino e Baptista, rezámos pelos nossos professores, de modo especial, pelos que, nos últimos anos, nos deixaram. Do seminário de Trancoso, P. Armando, P. Delfim, P. Santos Silva. Do seminário de Vilar, Dr. Marques, D. Manuel Vieira Pinto, P. Valdemar, Dr. Zacarias. Do seminário da Sé, Dr. Castro Meireles, D. Manuel Martins, Dr. Ângelo Alves.

E demos graças a Deus por, felizmente, D. Serafim Ferreira e Silva, nosso primeiro professor de direito canónico, e Cónego Ferreira dos Santos, professor de música, continuarem entre nós.

Por grata coincidência, na 2ª feira seguinte, recebi uma carta de D. Serafim que finalizava: “ P.S. Peço desculpa da letra, mas tudo se resume nisto: Parabéns. Obrigado.”

Esta simplicidade sempre nos cativou e fez dele um amigo que nunca nos esqueceu, mesmo quando já era bispo. Recordo alguns factos:

. Em 1 de dezembro de 2007, no 12º aniversário do Coro Gregoriano, presidiu a uma concelebração na capela do Calvário Húngaro e partilhou connosco a refeição comemorativa, em Fátima.

Nos dias 14 de janeiro 2010 e 13 de fevereiro 2011, deslocou-se de Fátima ao Porto para participar, na Sé, no primeiro e segundo “Dia da Voz Portucalense” em que foi recordado como antigo diretor.

Em 2011, apoiou os antigos alunos do Seminário Maior na publicação de “Manuel Álvaro de Madureira – in memoriam”, que enriqueceu com o seu ‘Testemunho’: “Na cátedra ou no jornal, foi escrupulosamente rigoroso, na lógica do pensamento, na fidelidade da ortodoxia doutrinal e na clareza da linguagem (…) Foi humilde e discreto. Nunca procurou títulos ou honrarias. Viveu como um monge”.

Na véspera do seu aniversário de nascimento (16/6/1930 – Santa Maria de Avioso, Maia) e de ordenação episcopal (16/6/1979 – Basílica do Sameiro, Braga), manifesto a D. Serafim a nossa estima e gratidão.

Que Deus o conserve. E, parafraseando D. António, nós continuaremos a dizer: “Enquanto os nossos professores forem vivos, somos sempre meninos.”