
Voltemos ao tema da exclusão, agora sob o ponto de vista da pobreza.
Deve-se ao Padre Wresinsky (1917-1988), nos anos sessenta, a primeira abordagem sócio-teológica a partir do interior desta realidade concreta. No seu seguimento, Jules Klanfer (1909-1967) cunhou o conceito de “exclusão social” para designar o fenómeno da pobreza extrema no interior dos países ricos. De facto, quando há privação dos bens necessários para as necessidades fundamentais da vida –alimentação, alojamento, roupa, acesso a cuidados básicos de saúde, instrução, cultura – a pessoa desliga-se dos restantes âmbitos sociais.
Infelizmente, a noção pós-moderna de desenvolvimento passa pela indiferença para com o excluído: rejeitam-se obrigações entre indivíduos em detrimento do princípio contratualístico da compensação ou da troca comercial. Em linguagem simples: entende as relações de trabalho e comerciais como a fidelidade a um mero contrato, sem se importar de saber se os contraentes estão dotados das mesmas possibilidades ou se o poderoso não acaba por impor as suas condições ao faminto.
Por causa disso, o Papa Francisco tem insistido na necessidade da contextualização da questão moral no âmbito da proximidade às periferias existenciais. Face a “uma economia de exclusão e de iniquidade” (EG 53) que conduz à “globalização da indiferença” (EG 54), impõe-se recuperar a noção de bem comum como específica atenção ao modo como a sociedade persegue finalidades compartilhadas por todos. O que supõe o compromisso solidário (cf. SRS 38) de ajudar o excluído a tornar-se protagonista da sua própria promoção.
Estar ao lado daqueles cujas possibilidades de desenvolvimento integral são mais dificultadas supõe uma efetiva centralidade da pessoa no interior do sistema e a valorização do princípio do destino universal dos bens. Ou transformar a situação injusta mediante uma perspetiva emancipatória a ser desencadeada pela pessoa em causa e não menos pelo Estado.
Mas como fazer que o excluído tome nas suas próprias mãos a tarefa da promoção e consequente inclusão social? Aqui reside o nó-górdio. Creio que só atitudes de proximidade e companheirismo social motivarão este processo. É preciso descer ao nível do excluído para o elevar. A exemplo de Jesus que encarna “por nós homens e para nossa salvação”.
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