Bispo do Porto: “parece estar a inverter-se a noção de bem e de mal”

Segundo D. Manuel Linda, estamos a assistir, em Portugal e na Europa, a uma “fragmentação da ética e do civismo” e a um “abaixamento das perspetivas morais até ao humanamente insustentável”.

A Eucaristia da Festa do Bom Jesus de Matosinhos, na terça-feira 7 de junho, foi presidida pelo bispo do Porto na presença do pároco padre Emanuel Brandão, vários outros sacerdotes e diáconos e muitos fiéis.

Na sua homilia, D. Manuel Linda começou por recordar que aqueles que acorrem “há centenas de anos” a esta festa anual em Matosinhos, fazem-no porque veem na imagem do Bom Jesus “um referencial de valores humanos e um âmbito de virtudes sobrenaturais que se sabem constituir referência segura e caminho certo para a realização da pessoa e da sociedade e para essa meta por todos ansiada que é a da felicidade”.

Não deixando de recordar que “os crentes do passado” e também os do “presente” não conseguem sempre ser “exemplares na vivência desses valores e virtudes” cristãs, D. Manuel Linda alertou para o facto da “cultura dominante atual, dita pós-moderna” estar a cortar “fortemente com este paradigma de ver Jesus como exemplar dos critérios morais”.

Houve um tempo em que o mundo procurou “o homem novo” e os seus modelos de vida nas ideologias. Entretanto, estas “desapareceram com a rapidez com que foram artificialmente criadas” – disse o bispo do Porto.

Para D. Manuel Linda, “desaparecidas as ideologias” na “cultura atual” encontramos uma abordagem individualista na qual “a pessoa deixou de contemplar um modelo fora de si e passou a fazer dos seus quereres e interesses, apetites e emoções, sentimentos e turbulências, a razão última do seu viver”.

“A moral tornou-se uma ética das situações, o bem e o mal passou a coincidir com o apetite, os princípios orientadores foram taxados de coisas ridículas, as grandes ânsias sociais desapareceram. É o reino do individualismo, entendido como desprezo das normas e dos critérios, particularmente, dos tradicionais” – afirmou.

Segundo o bispo do Porto, estamos a assistir, em Portugal e na Europa, a uma “fragmentação da ética e do civismo” e a um “abaixamento das perspetivas morais até ao humanamente insustentável”.

“Parece estar a inverter-se a noção de bem e de mal” – disse D. Manuel Linda citando problemas éticos como o aborto e a eutanásia.

“Para nós o Bom Jesus é a nossa referência” – declarou o bispo do Porto. “Porque é que o nosso povo chama “Bom” a Jesus, ao “Bom Jesus de Matosinhos”? Não só porque se habituou a esperar d’Ele graças e favores, mas também porque vê imensa bondade e beleza no seu estilo de vida e paradigma de toda a pessoa humanizada” – afirmou.

“Perante a atual cultura da negação, do niilismo e da indiferença, incutamos nós a cultura dos valores, da solidariedade comprometente, do absoluto respeito e presença junto de todas as fragilidades, da graça, da elevação, da espiritualidade” – acentuou D. Manuel Linda.

O bispo do Porto concluiu a sua homilia exortando os presentes a testemunharem nas suas vidas as suas convicções cristãs e a fé no “Bom Jesus”:

“E nós os que acreditamos nesta escala de valores, cidadãos na plenitude dos nossos direitos como os demais cidadãos, não deixaremos de usar a nossa inteligência para, com calma, mas também com forte convicção, continuarmos a afirmar que o Natal é mesmo a festa do nascimento do Menino Jesus e não uma qualquer festa de amizade; que os verdadeiros padrinhos são os que testemunham os sacramentos da Igreja e não convencionalismos sociais; que mandaremos dar uma volta a organismos do Estado quando, a pretexto de um qualquer protocolo, pretende ordenar que se retirem os crucifixos dos quartos dos idosos de um Lar da própria Igreja, quando nos impingem a morte como coisa boa” – declarou D. Manuel Linda.

RS