19 de Junho de 2022
Indicação das leituras
Leitura da Profecia de Zacarias Zac 12, 10-11; 13, 1
«Jorrará uma nascente para a casa de David e para os habitantes de Jerusalém, a fim de lavar o pecado e a impureza».
Salmo Responsorial Salmo 62 (63)
«A minha alma tem sede de Vós, meu Deus».
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas Gal 3, 26-29
«Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque todos vós, que fostes baptizados em Cristo, fostes revestidos de Cristo».
Aclamação ao Evangelho Jo 10, 27
Aleluia.
As minhas ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor;
Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas Lc 9, 18-24
«Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos».
«O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia».
«Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me».
Viver a Palavra
«Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos».
O Evangelho de S. Lucas coloca muitas vezes Jesus em oração, de tal modo que alguns autores o intitulam de «Evangelho da oração». A comunhão de amor que Ele vive com o Pai manifesta-se de tal modo na sua oração, que os discípulos hão-de pedir a Jesus que lhes ensine a rezar. Deveria ser fascinante ver Jesus a rezar. Contemplar aquele diálogo de amor que na força do Espírito Santo, Amor que envolve o Pai e o Filho, se tornava como que epifania da Trindade.
Esta comunhão de amor torna-se assim o ambiente onde a nossa oração pessoal e comunitário se deve desenvolver. A verdadeira oração cristã é aquela que se dirige ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Deste modo, rezar é frequentar a escola do amor e ler a vida, o tempo e a história com o olhar misericordioso de Deus que se revela de modo pleno na entrega do Filho e se perpetua pela força do Espírito.
Repetidas vezes escutamos que Jesus aparece em oração nos momentos mais decisivos da Sua vida, contudo, como afirma Luciano Manicardi, «a oração de Jesus torna decisivos os momentos do seu viver». Assim há-de suceder connosco: deixaremos de olhar para a oração como um rito mágico onde apresentamos a Deus os motivos do nosso orar e haveremos de converter a nossa vida cristã numa vida orante, que torna decisivos os diversos momentos do nosso viver, na totalidade da nossa vida, tal qual ela se apresenta. A verdadeira oração cristã não é aquela que se realiza até que Deus nos ouça, mas aquela que se desenvolve para que em nós ressoe a voz de Deus e possamos escutar o silencioso sussurrar do Seu amor.
Depois deste momento de oração e intimidade, Jesus dirige-se aos Seus discípulos e interpela-os sobre a Sua identidade. Inicialmente parece uma sondagem da opinião pública: «Quem dizem as multidões que Eu sou?». Porém, as interpelações de Jesus são muito mais profundas e na revelação da Sua identidade como Aquele que deve sofrer e dar a vida, Jesus revela também aquela que há-de ser a missão e a identidade daqueles que O querem seguir: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á».
Como publicitário estava reprovado, pois ao invés de anunciar um conjunto de soluções imediatas e sucessos aparentes, Jesus, com os pés bem assentes na realidade e consciente da fragilidade e contingência da nossa humanidade, convida-nos a abraçar os desafios e obstáculos da vida a partir desta nova lógica do Evangelho de que a vida é tanto mais nossa quanto mais for dos outros, de que a vida é verdadeiramente vida quando entregue sem medida. Jesus não é um masoquista que nos convida a abraçar o sofrimento pelo sofrimento, mas convida-nos a abraçar o amor que o fez ir até à Cruz! Jesus não abraça a cruz porque quer sofrer muito, mas porque nos ama muito.
Nesta passagem de Lucas, diversamente das outras passagens paralelas deste texto, Jesus junta ao desafio de tomar a cruz a expressão «todos os dias», para fazer ecoar no nosso coração a certeza de que o amor de que a cruz é sinal deve plasmar todos os nossos dias e configurar toda a nossa existência. Deste modo, como Paulo já não nos saberemos dizer sem dizer Jesus Cristo e sem recordar que a Sua vida ressuscitada é a chave de leitura de toda a nossa vida: «todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque todos vós, que fostes baptizados em Cristo, fostes revestidos de Cristo».
Homiliário patrístico
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (Séc. V)
Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Parece duro e pesado o que o Senhor mandou: se alguém quiser segui-l’O, tem de renunciar a si mesmo. Mas não é duro nem pesado o que manda Aquele mesmo que ajuda a fazer o que manda.
Que significa: Tome a sua cruz? Quer dizer: Aceita tudo quanto custa e segue-Me. Na verdade, quem começar a seguir-Me nos meus exemplos e preceitos, encontrará muitos que o critiquem, muitos que criem dificuldades, muitos que o dissuadam; encontrá-los-á mesmo entre os que parecem discípulos de Cristo. Andavam com Cristo os que proibiam os cegos de clamar. Tu, portanto, no meio de ameaças ou de carinhos ou de proibições, sejam elas quais forem, se quiseres seguir a Cristo, volta-te para a cruz; suporta-a, leva-a e não sucumbas.
Sigam a Cristo todos os membros da Igreja, cada um no seu lugar próprio, na sua condição, na sua medida. Mas renunciem a si mesmos, isto é, não presumam de si; e tomem a sua cruz, quer dizer, suportem no mundo, por amor de Cristo, tudo o que o mundo lançar contra eles. Amem o único que não ilude, o único que não é enganado nem engana; amem-n’O, porque é verdade o que Ele promete. A tua fé vacila, porque tardam as suas promessas; mas sê constante, perseverante e paciente, resigna-te com o adiamento. Assim se leva a cruz.
Indicações litúrgico-pastorais
- Este mês de Junho é marcado pelas festas dos santos populares que enchem as nossas terras de alegria, música e comemorações típicas. Na verdade, a celebração das festas dos santos deve ser sempre marcada pela alegria e pela festa, pois recordamos o testemunho gaudioso daqueles que seguiram a Cristo de todo o coração. Contudo, a Liturgia da Palavra deste Domingo recorda que o seguimento de Jesus se faz abraçando a nova lógica do Reino, abraçando a cruz e oferecendo generosamente a nossa vida. A alegria e a felicidade cristã não se constroem pela ausência de dificuldades e obstáculos, mas abraçando a totalidade da nossa vida como lugar de seguimento do Mestre. Deste modo, acolhendo os desafios da Liturgia da Palavra deste Domingo, esta celebração pode constituir-se como oportunidade para recordar que os santos que celebramos entre gestos e tradições festivas são homens que souberam viver a partir da sabedoria da cruz.
- Para os leitores: a brevidade das leituras deste Domingo não devem permitir que se descuide a sua preparação, mas, pelo contrário, exigem um acurado cuidado para uma adequada proclamação. Na primeira leitura, o Senhor dirige-se ao Seu Povo por meio do profeta. É o anúncio de que o dia de pranto e lamento será também o dia em que Deus irá lavar o pecado do Seu Povo. Por isso, a proclamação deste texto deve ser marcada pelo tom profético de anúncio deste dia tremendo e glorioso. A segunda leitura exige uma leitura pausada e uma especial atenção às pausas e respirações. Além disso, neste curto texto, a palavra Cristo aparece por cinco vezes. Na proclamação de um texto, as repetições devem ser valorizados pois é intencional a sua colocação.
Sugestões de cânticos
Entrada: Deus vive na sua morada santa – F. Santos (CN 362); Salmo Responsorial: A minha alma tem sede de Vós, meu Deus (Sl 62 (63)) – M. Luís (SRML, p. 150-151); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | As minhas ovelhas escutam a minha voz – Aleluia – C. Silva (CN 47); Ofertório: Vós que fostes baptizados em Cristo – F. Santos (CN 1022); Comunhão: Se algúem quiser seguir-me – C. Silva (CN 898); Pós-Comunhão: Senhor, eu creio que sois Cristo – F. Silva (CN 910); Final: Louvado seja o meu Senhor – J. Santos (CN 586).