Mensagem (168): Seringa

Ser pessoa é comunicar. Chamamos Pessoas ao próprio mistério de Deus porque o que carateriza a Trindade é o amor comunicativo no seu interior e a sua manifestação –a revelação- à humanidade.

Sem comunicação pessoal, não sobreviveríamos. Pense-se no bebé e suas linguagens: é nelas que manifesta fome ou frio, doença ou indisposição. E sem a comunicação social não haveria desenvolvimento: é esta que possibilita a partilha de informações que leva os outros a aproveitarem-se do já adquirido para o alargar e prolongar.

Por isto, a descoberta da imprensa, em 1455, constituiu um enorme salto qualitativo. A partir daí, a comunicação em série alargou-se enormemente: se, naquela altura, os livros se destinavam a uma irrisória minoria que sabia ler, com a rádio, a televisão, o cinema e a moderníssima internet, na prática, é a totalidade das pessoas que recebe mensagens.

Mensagens unilaterais, pois quase nunca há a possibilidade de interagir com o emissor. O que não deixa de ser caricato: no tempo das comunicações por excelência, somos mais objeto que sujeito, «produto» que agentes, bombardeados que transmissores de opinião e princípios morais. De facto, o recetor é débil e está exposto a investidas.

Tradicionalmente, atribuíam-se aos meios de comunicação sete tarefas: informar; favorecer o debate e o diálogo; educar; divertir; integrar pessoas e culturas; socializar ou aceitarmo-nos na diversidade; enfim, constituir um instrumento de perceção do mundo.

Isto é útil e indispensável. Mas tornou-se um «poder». E não falta quem o use para fins nem sempre claros. A ponto de se falar da “teoria da seringa hipodérmica”: os grandes meios existiriam para injetar continuamente, num povo passivo, as ideias e os comportamentos com que alguns o pretendem manipular e anestesiar. Com fins políticos ou revolucionários. Quando não num panfletarismo de agressão a instituições e a pessoas, expresso na agressão verbal, na insistência em determinados temas e, fundamentalmente, no escondimento do que não lhes interessa, pois, no mundo atual, o que não se diz, não existe.

Isto fará parte da nossa maneira de ser, da nossa cultura? O primeiro momento «culto» da nossa língua acontece com as cantigas de escárnio e maldizer. Será que esse elemento ficou sempre a marcar a nossa identidade?

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