
5 de Junho de 2022
Indicação das leituras
Leitura dos Actos dos Apóstolos Actos 2, 1-11
«Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem».
Salmo Responsorial Salmo 46 (47)
Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios 1 Cor 12, 3b-7.12-13
«Todos nós fomos baptizados num só Espírito, para formarmos um só Corpo».
Aclamação ao Evangelho
Vinde, Espírito Santo,
enchei os corações dos vossos fiéis
e acendei neles o fogo do vosso amor.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João Jo 20, 19-23
«Veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco».
«Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor».
«Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
Viver a Palavra
A Liturgia da Palavra deste Domingo situa temporalmente a descida do Espírito Santo em dois momentos diferentes: a primeira leitura, do Livro dos Actos dos Apóstolos, indica que tudo aconteceu no dia de Pentecostes, isto é, cinquenta dias depois da Páscoa e o texto do Evangelho afirma que os discípulos se encontravam fechados com medo dos judeus «na tarde daquele dia, o primeiro da semana». Sabemos que os textos bíblicos não são relatos jornalísticos preocupados em situar exactamente cada acontecimento no tempo e no espaço, mas escritos para comunicar o acontecimento de Cristo e, assim, cada tempo e cada lugar traduzem a experiência do encontro com Jesus e possuem uma intenção teológica. Contudo, evitando qualquer tentativa forçada de harmonização para superar esta aparente contradição, estas indicações temporais manifestam a estreita ligação entre a Páscoa e o Pentecostes, entre a Ressurreição e o dom do Espírito.
O Espírito Santo é dom do Senhor Jesus Ressuscitado. Antes de partir, Jesus garante que não nos deixará sozinhos (cf. Mt 28,20) e, tendo subido ao Céu, cumprindo a Sua promessa, acompanha a vida e a missão dos Seus discípulos pela força do Espírito Santo. O Livro dos Actos dos Apóstolos, descrevendo a vida da Igreja Nascente, apresenta de modo muito claro como o Espírito precede, acompanha e confirma a missão da comunidade primitiva. O Espírito Santo é força vital da Igreja que assegura a continuidade da obra redentora de Cristo e actua na história como protagonista da missão que a comunidade cristã é chamada a realizar.
Jesus, mostrando as mãos e o lado, sinais que identificam Ressuscitado com o Crucificado, vincula à Sua vida a missão dos discípulos: «assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». A vida cristã é dom acolhido livremente e a nossa missão está indelevelmente unida à missão de Jesus e não faz sentido sem Ele. Por isso, a nossa missão desenvolve-se de olhos postos em Jesus, escutando a Sua palavra, contemplando os Seus gestos e saboreando a Sua ternura e o Seu amor.
A garantia da continuidade entre a missão de Jesus e a nossa missão, entre a obra redentora de Cristo e a acção da Igreja é oferecido pelo dom do Espírito Santo: «há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos».
Contudo, o Espírito é dom – «recebei o Espírito Santo» – e exige de nós a docilidade de coração para que nos deixemos guiar e conduzir. Ele não se impõe mas propõe caminhos de vida nova, exigindo a coragem e a humildade de deixar os nossos esquemas e comodismos para nos abrirmos à permanente novidade que é dom do Seu amor.
O Espírito Santo, como artífice da comunhão, promovendo a unidade na diversidade, é o grande protagonista da acção da Igreja. Como afirmou o Patriarca Ignace Hazim, Inácio IV de Antioquia: «Sem o Espírito Santo, Deus está longe; Cristo permanece no passado; o Evangelho é letra morta; a Igreja, uma simples organização; a autoridade, despotismo; a missão, propaganda; o culto uma evocação; e a vida cristã, uma moral de escravos. Mas no Espírito Santo o cosmos fica elevado e geme na gestação do Reino; o homem luta contra a carne; Cristo ressuscitado está presente, o Evangelho é poder de vida, a Igreja é ícone da comunhão trinitária; a autoridade, um serviço libertador; a missão, um novo Pentecostes; a liturgia é memorial e antecipação; e toda a vida cristã fica deificada».
Homiliário patrístico
Do Tratado de Santo Ireneu, bispo,
«Contra as heresias» (Séc. II)
Pelos Profetas tinha Deus prometido que nos últimos tempos derramaria o seu Espírito sobre os seus servos e servas, para que recebessem o dom da profecia. Por isso desceu o Espírito Santo sobre o Filho de Deus, que Se fez Filho do homem, habituando-Se com Ele a morar entre o género humano, a repousar sobre os homens e a habitar na criatura de Deus. Assim renovava os homens segundo a vontade do Pai, fazendo-os passar da sua antiga condição à vida nova de Cristo.
São Lucas diz que este Espírito, depois da ascensão do Senhor, desceu sobre os discípulos no dia de Pentecostes, com o poder de dar a vida nova a todos os povos e de os fazer participar na Nova Aliança; por isso se uniram naquele dia todas as línguas no mesmo louvor de Deus, enquanto o Espírito congregava na unidade as tribos mais distantes e oferecia ao Pai as primícias de todas as nações. O Senhor tinha prometido enviar-nos o Paráclito, que nos havia de preparar para receber a Deus. Assim como a farinha seca, sem a água, não se pode amassar para fazer um só pão, também nós, que somos muitos, não podíamos transformar-nos num só Corpo, em Cristo Jesus, sem a água que vem do Céu. E assim como a terra árida não dá fruto se não for regada, também nós, que éramos antes como uma árvore ressequida, nunca daríamos frutos de vida sem a chuva da graça que desce do alto.
Indicações litúrgico-pastorais
- O Espírito Santo é o grande protagonista da missão da Igreja que actua no coração dos crentes, promovendo a unidade na diversidade e sublinhando que cada baptizado, na força do Espírito Santo, se constitui como discípulo missionário ao serviço da Igreja e do Mundo. Ao celebrar o Domingo de Pentecostes é fundamental recordar aos fiéis que esta convicção deve manifestar-se na vida das comunidades pela participação activa e concreta dos fiéis na acção eclesial. Deste modo, este Domingo constitui-se como uma oportunidade para exortar os fiéis à construção de uma Igreja cada vez mais sinodal e como lugar de formação para uma cultura da sinodalidade e comunhão que é indispensável para o actual contexto eclesial e cultural.
- Para os leitores: a descida do Espírito Santo narrada pela primeira leitura é marcada por um conjunto de sinais que devem ser sublinhados ao longo da leitura. Os advérbios como «subitamente» ou indicações como «um rumor semelhante a forte rajada de vento» ou «Atónitos e maravilhados» devem ser lidas de modo que a expressividade que o texto apresenta esteja presente na proclamação. Uma atenção especial deve estar presente na enumeração das diversas proveniências daqueles que se encontravam em Jerusalém. Além da dificuldade de algumas das palavras, trata-se de uma longa enumeração. Na segunda leitura, um primeiro aspecto a ter em conta é a construção do texto, onde a dicotomia entre a diversidade e a unidade deve ser bem proclamada porque é central para compreender a leitura: «há diversidade… mas…». A secção final introduzida pela conjunção «na verdade» deve ser proclamada com uma especial atenção pois apresenta a conclusão e síntese de todo o texto.
Sugestões de cânticos
Entrada: O Espírito do Senhor – F. Silva (CN 683); Salmo Responsorial: Mandai, Senhor, o vosso Espírito (Sl 103 (104)) – M. Luís (SRML, p. 104-105); Sequência de Pentecostes: Veni Sancte Spiritus – C. Silva (CN 41;) Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Vinde, Espírito Santo – A. Cartageno (CN 49); Ofertório: Veni Creator Spiritus – Gregoriano (CN 991); Comunhão: Todos ficaram cheios do Espírito Santo – M. Luís (CEC I, p. 188); Pós-Comunhão: Só no Espírito de Deus – C. Silva (CN 933); Final: O Espírito do Senhor encheu – F. Santos (CN 684).