Mensagem (167): Segurança – II

Os populismos reduzem os diversos âmbitos da segurança ao medo do choque cultural e étnico e exploraram o pânico que aí se origina. Para eles, tudo o que se afasta da sua raça ou cultura padrão constitui uma ameaça. Advogam um novo rearmamento bélico, um discurso de afrontamento, estruturas que impossibilitem a miscigenação e a coexistência, uma nova divisão do mundo em blocos. Por detrás desta mentalidade, quase sempre subjaz uma ideia violenta de ordem social, tal como faziam as doutrinas de segurança nacional, fosse o comunismo soviético, fossem os regimes fascizantes da América Latina.

Esta passagem de uma segurança imposta a um sistema aberto, carregado de incertezas em todos os âmbitos, leva muitos a sentirem-se desorientados e a procurar na via do «regresso ao passado» a superação dos medos que a novidade lhes origina. Inglehart denomina-os “materialistas”, pois não concebem a história como dinamismo espiritual e cultural, mas recuperação fóssil do que imaginam ter constituído garantia de vitalidade numa determinada época. É o caso, por exemplo, da liturgia e das perspetivas eclesiológicas católicas: porque associam cristandade com época áurea, alguns procuram nos velhos ritos e doutrina uma resposta aos inegáveis reptos que a cultura da indiferença lança à Igreja no Primeiro Mundo.

A segurança de futuro, entendida como complexo de valores que garantam a existência individual e coletiva e avalizem a liberdade e a dignidade pessoal, necessita de abrir-se a novos horizontes. Como diz o Papa Francisco, tem de assumir a imprevisível “sempre nova e fascinante alegre notícia do Evangelho de Jesus”. Reclama, por conseguinte, uma profunda análise ética, um sério juízo cristão e um «suplemento de alma», pois a segurança não pode originar-se nos mecanismos de controlo nem no fixismo histórico, mas na força moral e espiritual das pessoas e coletividades.

Quando se faz da segurança o critério supremo da existência, entendida sob o ponto de vista da quietude e não da interação, só pode prosperar o medo e a violência extrema para com o adversário. O contrário da atitude de Jesus de Nazaré que, no caso da tempestade aplacada quando atravessava o lago de Tiberíades juntamente com os Apóstolos, os faz ver que os grandes inimigos da segurança, afinal, são o medo e a falta de fé.

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