
29 de Maio de 2022
Indicação das leituras
Leitura dos Actos dos Apóstolos Actos 1, 1-11
«Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».
Salmo Responsorial Salmo 46 (47)
Ergue-Se Deus, o Senhor, em júbilo e ao som da trombeta.
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios Ef 1, 17-23
«Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo».
Aclamação ao Evangelho Mt 28, l9a.20b
Aleluia.
Ide e ensinai todos os povos, diz o Senhor:
Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas Lc 24, 46-53
«Vós sois testemunhas disso. Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai».
«Permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto».
«Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria».
Viver a Palavra
Depois de ter ressuscitado e se ter manifestado aos Seus discípulos, Jesus «levou os discípulos até junto de Betânia». Este local será sempre lugar de acolhimento, amizade e intimidade. Lugar para servir o Mestre com a dedicação activa de Marta e com a escuta contemplativa de Maria. E é, precisamente neste lugar, que Jesus renova no coração dos discípulos o amor e a intimidade e «erguendo as mãos, abençoou-os» e «enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu».
Segundo o livro dos Actos dos Apóstolos esta bênção é acompanhada por uma promessa: «esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu». E esta promessa possui como garantia o dom do Espírito que os constitui testemunhas: «recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra».
A Ascensão de Jesus coloca-nos de olhar fito no Céu contemplando o dom da Sua bênção. Na Sagrada Escritura, a bênção é sempre lugar de acção de graças, de fecundidade e de vida. Ao partir para ficar connosco de um modo novo, Jesus não deixa um juízo ou um lamento, mas uma palavra bela sobre nós e sobre o mundo, uma palavra de enorme desafio e confiança sobre a nossa história. E não tenho dúvidas que a terá proferido com um sorriso.
Como os discípulos, olhando o Céu, recordamos a meta da nossa caminhada. Somos peregrinos a caminho do Céu, chamados à santidade tal como nos recorda a oração colecta da missa: «a ascensão de Cristo, vosso Filho, é a nossa esperança: tendo-nos precedido na glória como nossa Cabeça, para aí nos chama como membros do seu Corpo». Porém, curiosamente a narrativa da Ascensão no Livro dos Actos dos Apóstolos estabelece uma continuidade entre a vinda gloriosa do Senhor e o seu caminhar histórico, pois o verbo grego usado para designar a partida de Jesus para o Céu é o mesmo que indica o caminho que Ele realiza pelas estradas da Judeia e da Galileia. Deste modo, a vinda escatológica de Jesus está em estreita ligação com o Seu caminho quotidiano. O Jesus, que sobe ao Céu e que virá um dia na glória, é Aquele que percorreu os caminhos da Palestina, anunciando uma mensagem de Paz e Perdão, estabelecendo gestos de proximidade, bondade e misericórdia. Por isso, para conhecer Jesus, confessá-lo e testemunhá-lo com a vida não é necessário olhar o Céu mas recordar os Seus passos, contemplar os Seus gestos e deixar-se apaixonar pelo amor depositado na Sua entrega. Testemunhar é dar rosto Àquele que não está visível, mas que se faz tangível nos gestos concretos de amor e misericórdia que os Seus discípulos são chamados a realizar.
A Ascensão de Jesus inaugura o tempo da Igreja e estabelece os discípulos como continuadores da obra redentora de Cristo, para que o anúncio do arrependimento e do perdão possa chegar a todos os lugares, a todas as pessoas e todas as situações. O arrependimento e a conversão não são um imperativo mas uma oferta, não são um dever mas uma oportunidade para que a nossa vida possa ser um lugar de beleza e o mundo um lugar mais feliz. O perdão não é um apagar ingénuo do passado, mas sinal e prova do amor criador que renova todas as coisas, cura as feridas e inaugura um tempo novo. Deste modo, como anunciadores da conversão e do perdão, os discípulos de Jesus tornam-se testemunhas do amor misericordioso do Pai e na força do Espírito fazem ecoar no mundo a certeza de que Jesus está vivo e acompanha a Sua Igreja na missão evangelizadora.
Homiliário patrístico
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (Séc. V)
Hoje, Nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao Céu; suba também com Ele o nosso coração. Ouçamos o que nos diz o Apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, saboreai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus; aspirai às coisas do alto, não às da terra. E assim como Ele subiu ao Céu sem Se afastar de nós, também nós subimos com Ele, embora não se tenha realizado ainda no nosso corpo o que nos está prometido.
Ele não Se afastou do Céu quando de lá baixou até nós; também não Se afastou de nós quando de novo subiu ao Céu. Ele mesmo afirma que Se encontrava no Céu quando vivia na terra, ao dizer: Ninguém subiu ao Céu, a não ser Aquele que desceu do Céu, o Filho do homem, que está no Céu. Isto foi dito para significar a unidade que existe entre Ele, nossa Cabeça, e nós, seu Corpo. E ninguém senão Ele podia realizar esta unidade que nos identifica com Ele mesmo, porque Ele Se fez Filho do homem por causa de nós, e nós por meio d’Ele nos tornámos filhos de Deus.
Indicações litúrgico-pastorais
- No próximo Domingo, com a celebração da Solenidade do Pentecostes, terminamos o Tempo Pascal. A Solenidade de Pentecostes prevê a celebração de uma Vigília prolongada que usualmente não é celebrada nas nossas comunidades. Deste modo, no término do Tempo Pascal, celebrando o dom do Espírito Santo à Igreja, a celebração desta Vigília com as quatro leituras do Antigo Testamento e as duas do Novo Testamento (Epístola aos Romanos e Evangelho) serão uma importante oportunidade para em comunidade aprofundar a beleza de sermos um Povo que caminha animado pela força do Espírito. Por exemplo, pode ser uma ocasião para envolver os jovens que se preparam para o Crisma ou receberam recentemente o Sacramento da Confirmação. Envolver, acompanhar e integrar na vida comunitária realiza-se de modo particular na celebração litúrgica, onde a comunidade cristã reunida para celebrar o Mistério Pascal de Cristo, louva o Seu Senhor e renova a sua consciência de Povo Sacerdotal chamado a percorrer com alegria a estrada da santidade.
- Para os leitores: a primeira leitura é marcada pelo tom narrativo da Ascensão de Jesus ao Céu diante dos Seus discípulos. Além do tom narrativo que deve marcar a proclamação da leitura, é necessário uma atenção especial às diversas intervenções de discurso directo, de modo particular à primeira – «da qual – disse Ele – Me ouvistes falar (…)» – pois logo após iniciar o discurso directo se indica o autor daquela intervenção. Na segunda leitura, além das frases longas com diversas orações que são habituais na literatura paulina e que exigem um especial cuidado nas pausas e na respiração, é necessário ter em atenção as duas enumerações presentes no texto.
Sugestões de cânticos
Entrada: Aclamai Jesus Cristo – F. Silva (CN 174); Salmo Responsorial: Ergue-se Deus, o Senhor (Sl 46 (47)) – M. Luís (SRML, p. 94-95); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Diz o Senhor: Ide e ensinai todos os povos – F. Santos (BML 36); Ofertório: Reinos da terra, cantai a Deus – F. Silva (CN 858); Comunhão: Eu estou sempre convosco – A. Cartageno (BS, p. 154); Pós-Comunhão: O Pai vos enviará o Espírito Santo – F. Silva (IC, p. 341 | NRMS, 58) – F. Santos (CN 814); Final: Diz o Senhor: Ide e ensinai – A. Cartageno (CN 373).