Francisco nos 60 anos do Pontifício Instituto Litúrgico

No passado sábado, 7 de maio, o Papa Francisco recebeu o Corpo diretivo, docente e discente do Pontifício Instituto Liturgia de Santo Anselmo que está a celebrar 60 anos de serviço à Igreja.

Francisco recordou que esta prestigiosa instituição de ensino superior surgiu em 1962 para dar resposta à crescente necessidade do Povo de Deus viver e participar na Liturgia, necessidade que veio a emergir na aprovação da Constituição Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de 1963).

Em seguida, o Papa focou o seu discurso em 3 dimensões essenciais do impulso conciliar ao renovamento da vida litúrgica: a participação ativa e frutuosa na Liturgia; a comunhão eclesial, animada pela celebração da Eucaristia e dos Sacramentos da Igreja; e o impulso para a missão evangelizadora a partir da vida litúrgica que implica todos os batizados.

  1. «Antes de mais a formação para viver e promover a participação ativa na vida litúrgica. O estudo aprofundado da Liturgia deve impelir-vos a favorecer, como queria o Concílio, esta dimensão fundamental da vida cristã. A chave, aqui, é educar as pessoas para entrar no espírito da liturgia. E para o saber fazer é necessário estar impregnados deste espírito. No Santo Anselmo, gostaria de dizer, deveria suceder isto: impregnar-se do espírito da liturgia, sentir o seu mistério com admiração sempre nova. A liturgia não se possui, não; não é um ofício: a liturgia aprende-se, a liturgia celebra-se. Chegar a esta atitude de celebrar a liturgia. E só se participa ativamente na medida em que se entra neste espírito de celebração. Não é questão de ritos, é o mistério de Cristo, que de uma vez por todas se revelou e cumpriu o sagrado, o sacrifício e o sacerdócio. O culto em espírito e verdade. Tudo isto, no vosso Instituto, deve ser meditado, assimilado, diria “respirado”. Na escola das Escrituras, dos Padres, da Tradição, dos Santos. Só assim a participação se pode traduzir num maior sentido da Igreja, que faça viver evangelicamente em qualquer tempo e circunstância. E também esta atitude de celebrar está sujeita a tentações. Sobre isto gostaria de sublinhar o perigo, a tentação do formalismo litúrgico: andar atrás de formas, das formalidades mais do que da realidade, como hoje vemos naqueles movimentos que procuram um pouco andar para trás e negam precisamente o II Concílio do Vaticano. Então a celebração é recitação, é uma coisa sem vida, sem alegria.
  2. A vossa dedicação ao estudo litúrgico, tanto por parte dos professores, como dos estudantes, faz-vos crescer também na comunhão eclesial. A vida litúrgica, de facto, abre-nos ao outro, ao mais próximo e ao mais distante da Igreja, na comum pertença a Cristo. Dar glória a Deus na liturgia encontra a sua correspondência no amor pelo próximo, no compromisso de viver como irmãos nas situações quotidianas, na comunidade em que me encontro, com as suas qualidades e os seus limites. É este o caminho da verdadeira santificação. Por isso, a formação do povo de Deus é uma tarefa fundamental para viver uma vida litúrgica plenamente eclesial.
  3. E o terceiro aspeto. Cada celebração litúrgica conclui-se sempre com a missão. Aquilo que vivemos e celebramos leva-nos a sair ao encontro dos outros, ao encontro do mundo que nos rodeia, ao encontro das suas alegrias e das necessidades de tantos que talvez vivam sem conhecer o dom de Deus. A genuína vida litúrgica, especialmente a Eucaristia, impele-nos sempre à caridade, que é antes de mais abertura e atenção ao outro. Esta atitude começa sempre e fundamenta-se na oração, em particular na oração litúrgica. E esta dimensão abre-nos também ao diálogo, ao encontro, ao espírito ecuménico, ao acolhimento.

Detive-me brevemente nestas três dimensões fundamentais. Volto a sublinhar que a vida litúrgica e o seu estudo devem conduzir a uma maior unidade eclesial, não à divisão. Quando a vida litúrgica é um pouco bandeira de divisão, está lá dentro o cheiro do diabo, o enganador. Não é possível prestar culto a Deus e, ao mesmo tempo, fazer da liturgia um campo de batalha para questões que não são essenciais, aliás, para questões ultrapassadas e para tomar posição, a partir da liturgia, com ideologias que dividem a Igreja. O Evangelho e a Tradição da Igreja chamam-nos a estar firmemente unidos no essencial e a partilhar as legítimas diferenças na harmonia do Espírito. Por isso, o Concílio quis preparar com abundância a mesa da Palavra de Deus e da Eucaristia, para tornar possível a presença de Deus no meio do seu Povo. Assim a Igreja, mediante a oração litúrgica, prolonga a obra de Cristo no meio dos homens e das mulheres de todos os tempos, e também no meio da criação, dispensando a graça da sua presença sacramental. A liturgia deve estudar-se permanecendo fiéis a este mistério da Igreja».