Domingo de Páscoa: “se queremos a paz, apostemos em alternativas às armas”

Foto: Rui Saraiva

A ressurreição de Cristo “instaura novos critérios” de “um novo mundo, liberto da violência, do pecado e da morte” – recordou D. Manuel Linda que pediu “diplomacia” e “negociações” para a paz na Ucrânia pois a situação atual “pode chegar à ameaça e à destruição nuclear total”.

Domingo de Páscoa, Domingo de “Aleluia”, sendo esta palavra um som “que nasce de um coração amoroso”, referiu o bispo do Porto na sua homilia no Domingo de Páscoa na Catedral do Porto, assinalando que “O Senhor ressuscitou verdadeiramente”.

No entanto, o atual momento histórico internacional é de “agressão” não “somente a um país”, mas “à comunidade das nações que tem direito a viver em paz” – sublinhou D. Manuel Linda referindo-se à invasão da Ucrânia perpetrada pela Rússia.

“Nós somos a Ucrânia espezinhada, pois também sofremos uma vontade de poder expressa em exercício brutal do poder: o poder tornado força demoníaca” – apontou o prelado.

Um poder “que pode chegar à ameaça e à destruição nuclear total. Sim, como sabemos, esta agressão constitui um passo de gigante na direção do cataclismo, do holocausto, do fim” – declarou.

D. Manuel Linda, contudo, salientou que “o dramatismo desta situação não se gerou do nada. O agressor confiou nas armas acumuladas ao longo de décadas e décadas e continuamente produzidas. Mas os apoiantes do agredido também fizeram a mesma coisa: o mundo não aprendeu com o passado e continuou a armar-se até aos dentes. Só que a produção de armas reclama a produção de guerras”.

“E o Ocidente não tem as mãos limpas, neste particular: delas escorre muito sangue inocente” – assinalou.

O bispo do Porto frisou a importância de apostar em “alternativas às armas” como a “diplomacia” e as “negociações”:

“Por isso, como o Papa e com o Papa, garante visível da unidade da Igreja e servidor do homem, da verdade e da fé, apelo a que, se queremos a paz, apostemos em alternativas às armas. Desde logo, na diplomacia, na mediação de terceiros, na pressão da opinião pública internacional, nas negociações. E, fundamentalmente, apostemos na oração. Não se nega o direito da legítima defesa: estamos pela razão do injustamente agredido e detestamos a violência ébria do agressor. Porém, se a defesa se baseia somente em armas, mais estimula o adversário a aumentar a ferocidade”.

A ressurreição de Cristo “instaura novos critérios” de “um novo mundo, liberto da violência, do pecado e da morte” – recordou D. Manuel Linda, mas, “infelizmente, não é isso que vemos ao longo da história e, por desgraça, também nos nossos dias”, pois, “a nível internacional, voltamos a ser confrontados com a mesma sede de destruição, de morte e de sangue que ditou a condenação de Jesus” – apontou.

Segundo o bispo do Porto, para viver os novos critérios que a ressurreição de Jesus nos dá é preciso procurar a “sabedoria do coração” como aquela que podemos descobrir na atitude de João, o “discípulo amado”.

João “vive a partir da sabedoria do coração, na certeza de que só o amor faz penetrar no centro da realidade e prender-se a ela” – acrescentou.

“João não cede ao emotivo momentâneo. Não fica nesse patamar, mas num outro que lhe era típico: o de uma afetividade que lhe gera compreensão interna e não mera observação do exterior” – disse D. Manuel Linda assinalando que “João sai do túmulo como o primeiro crente da fé pascal porque «sentiu» a partir da interioridade do seu amor a Cristo”.

“A ressurreição é a aniquilação da morte e a vitória da vida. Rezemos e confiemos, portanto, no Senhor que, nas aparições de Ressuscitado, sempre saudava os seus com aquela fórmula que deu entrada na liturgia: ‘A paz esteja convosco’ – declarou o bispo do Porto concluindo a sua homilia dirigindo-se a cada um dos fiéis:

“A paz esteja contigo, irmão e irmã que me ouves, particularmente tu que passas horas de tristeza e apreensão, que esmoreces ou desanimas, que sofres ou tiveste de fugir ao pavor da guerra. O Senhor é essa paz que buscas. E Ele garante-te: ‘Coragem! Eu venci o mal’.”

RS