
Está a decorrer a consulta sinodal proposta pelo Papa Francisco. Uma iniciativa que marca o ritmo da Igreja nesta Páscoa de 2022, num contexto mundial de grande preocupação devido à guerra provocada pela Rússia na Ucrânia. Na diocese do Porto as respostas dos encontros sinodais deverão ser enviadas até dia 17 de abril.
Nas dioceses de todo o mundo continuam a decorrer encontros sinodais. Nesta Páscoa de 2022 é em caminho sinodal que a Igreja está a percorrer a Semana Santa, num contexto mundial de grande preocupação devido à guerra provocada pela Rússia na Ucrânia.
Na diocese do Porto a consulta sinodal está em momento de recolha de respostas dos encontros sinodais. As conclusões devem também ser entregues até ao próximo dia 17 de abril, Domingo de Páscoa.
Procurando ir ao encontro das opiniões e testemunhos de todos, em particular, daquelas pessoas que não estão integradas em grupos eclesiais, ou não têm uma participação regular em Igreja, a Comissão Sinodal Diocesana do Porto propõe um Questionário Individual online que está disponível nos sites da Comissão, da diocese do Porto e da Voz Portucalense.
Entretanto, nesta edição VP, propomos a reflexão de um dos membros da Comissão Sinodal Diocesana, Sofia Salgado Pinto, neste texto que aqui publicamos.
A esperança no Sínodo 2023 (parte II)
Há tempos escrevi sobre o sínodo em que estamos a participar. Referi-me ao convite e desafio que o Papa Francisco nos lançou e está a lançar. E este caminho, então iniciado, é para mim um sinal de Esperança.
Por Sofia Salgado Pinto*
O caminho entretanto vivido continua a alimentar a minha esperança. A minha esperança nas pessoas, a minha esperança num melhor entendimento entre os seres humanos, a minha esperança numa construção de mais paz. A minha esperança numa Igreja que caminha mais junto do seu povo.
Uma das experiências agrestes deste processo sinodal é a experiência da diversidade. A promoção da diversidade é muito facilmente declarada e tão poucas vezes vivida. É bonita de anunciar, mas difícil de viver de forma consistente.
Quando nos colocamos à escuta, quando verdadeiramente nos permitimos e deixamos encontrar com o outro e com outros, apercebemo-nos de que somos diferentes. Somos diferentes nas nossas histórias pessoais, diferentes na forma como dizemos o que queremos dizer, no que fazemos, e em como pensamos. E quando mais nos permitimos escutar outros fora da nossa zona (da nossa paróquia), do nosso trabalho, ou da nossa vida, mais vamos encontrar o diferente. E escutar aquilo que é diferente é algo exigente para qualquer um de nós. É algo que nos pede atenção, abertura e humildade. Pelo que não é de espantar quando nos apercebemos que tendemos a sentir-nos melhor com aqueles que vivem e falam de forma parecida com a nossa ou com aqueles que são da nossa zona, ou que têm o mesmo tipo de trabalho, etc.
Ora, é este exatamente o primeiro desafio que o Papa nos lança. Que promovamos o encontro para podermos fazer a escuta. A escuta de uns e de outros, para que todos possamos ter voz na forma de como podemos melhorar a nossa “caminhada juntos”.
Mas as nossas agendas cheias, as nossas formas habituais de conseguir fazer muitas coisas, são inibidoras do espaço e tempo que é necessário para a escuta. E é tão difícil mudarmos as nossas agendas e sermos capazes de redefinir prioridades. É tão mais fácil dizer: “era muito bom, gostava muito, mas não consigo”. E então, caímos na tentação do que é pratico, do que é possível, e no limite, ouvimos os que nos são próximos, parecidos connosco e nos meios habituais. E é muito bom que tenhamos tempo para escutar aqueles que nos são confiados nas nossas famílias, nos nossos trabalhos e nas nossas comunidades. Mas conseguimos neste tempo sinodal ir a alguma margem da nossa vida? Conseguimos uma escuta diferente? No tempo e nas pessoas que escutamos?
Quando conseguimos uma mínima fração de tempo para escutar verdadeiramente o outro e para escutar quem não temos por hábito encontrar e escutar, então começamos o caminho de Emaús e podemos experimentar o “coração a arder” como os discípulos que sentiam algo quando falavam com aquele desconhecido que com eles caminhava e que parecia distante da realidade e dos problemas do momento. Aquele que parece não estar a par da nossa agenda, mas que tem algo importante para nos dizer e que se manifesta nos pequenos e simples gestos. E estamos nós disponíveis para reconhecer estes desconhecidos que se juntam a nós no caminho?
Ora quando começamos a dar espaço para o encontro e quando nos preparamos para esse encontro, então deixamos de resistir. Quando não receamos, damos abertura ao que é diferente e damos espaço para que a compreensão aconteça. Para que eu entenda o outro no que ele diz e na forma como o diz.
Esta foi a realidade que o Cristo ressuscitado veio manifestar, ao enviar o Espírito Santo sobre os apóstolos, permitindo-lhes anunciar o Evangelho de uma tal forma que cada um os ouvia na sua língua. E é o mesmo Espírito Santo que nos inspira e alimenta hoje na capacidade de escutar de uma tal forma que o nosso coração entenda o que o outro nos diz e nos permita também falar numa língua que o outro entenda. Essa linguagem deixa de ser a nossa e passa a ser aquela que o outro entende.
Assim, se a fase de escuta do processo sinodal é árdua no que nos pede de disponibilidade de tempo e coração, também é plena de riqueza da Voz de Deus através dos outros. E esta experiência enche-me de alegria e esperança!
*docente da Católica Porto Business School e membro da Comissão Sinodal Diocesana