
O grande drama das mulheres que foram embalsamar o corpo de Jesus, após a sua sepultura apressada, era a remoção da pedra que vedava o túmulo e constituía uma barreira entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Para além disso, a pedra simbolizava esse quebra-ondas onde esbarram e se desfazem todos os sonhos, projetos e ilusões. Onde a vida acaba e a morte começa.
De facto, na Sagrada Escritura, a pedra interliga-se, muitas vezes, com morte violenta: usa-se para bater o inimigo (Ex 21, 18), para afogar (Jer 51, 63), para se ferir ou matar a si próprio (Mc 5, 5), para fazer guerra (I Mac 6, 51), para delapidar (Jo 8, 5), etc. Portadoras desta mentalidade, as mulheres sabiam que a pedra se relaciona mais com a morte do que com a vida. De resto, já teriam ouvido falar da rocha tarpeia, em Roma, ou da organização de pequenas intifadas locais.
A morte era a razão da sua ida ao sepulcro. De tal forma que, quando veem a pedra removida, começa a crise: não entendem quem a deslocou, ao não verem o cadáver começam a imaginar maquinações de roubo, confundem os anjos com o jardineiro, vão dar a notícia aos discípulos mas estes não acreditam «em mulheres», etc. Entra-se num mundo de desconfiança, a ponto de ninguém crer em ninguém. Porventura, nem sequer as mulheres nos anjos que lhes garantes que “ressuscitou”.
Seria precisa serenidade, a recordação de quanto o Mestre lhes havia dito, os sinais da ressurreição, as aparições e, sobretudo, o envio do Espírito, para que a mente se abrisse à novidade grandiosa da realidade distinta. Para que a pedra passasse a sinal de vida plena e harmoniosa. Como, mais tarde, compreenderão e anunciarão: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra de fecho” da grande abóbada do edifício da comunidade dos salvos pelo Ressuscitado.
Na manhã da Páscoa, as mulheres não entenderam o que estava em jogo. Habituadas aos pequenos afetos de velar os cadáveres, de consolar as famílias, de honrar a sua memória, dão deram conta da nova fase histórica. Mas o deslocamento da pedra haveria de significar a remoção da própria morte eterna e a recuperação da confiança. N’Ele e de uns com os outros.
Haveria de gerar uma fé que é «produtor» direto dessa certeza. E novos afetos, agora já não expressos em perfumes de embalsamar, mas em simpáticas relações para o Alto e para os irmãos. Porque Ele ressuscitou!
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