Um discurso na Assembleia da República

A Assembleia da República tomou finalmente posse na última semana e com ela todas as eleições correspondentes aos cargos assumidos na assembleia. Um deles, da maior importância, até porque é a segunda figura de estado, é a do presidente da referida assembleia, que por maioria de votos elegeu Augusto Santos Silva. Antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Professor da Faculdade de Economia do Porto, este portuense elaborou um discurso que poderá ficar na memória de todos e todas nós, e que convém salientar quando tantos e tantas se conduzem por caminhos ínvios da fraternidade e da justiça. Não sendo propriamente um admirador de Augusto Santos Silva, estou numa posição cómoda para louvar e agradecer o seu discurso inicial. Dirigido aos membros da Assembleia da República deverá ter eco entre todos e todas as pessoas cidadãs do meu país. Contido, centrado nos valores da tolerância e da diversidade, respeitando todas as ideias, mesmo daqueles que não querem tal, o Professor Santos Silva afirmou uma lição de convivência democrática que tantas vezes não é entendida no nosso país, fazendo uma alusão distintiva entre o nacionalismo e o populismo peculiar, de agradável leitura e, sobretudo, de engrandecimento pátrio.

Afirmando que “Todas as ideias podem ser trazidas, mesmo as que contestam a democracia, porque essa é a mais óbvia vantagem da democracia sobre a ditadura”, reafirmou um princípio fundamental da vida numa sociedade democrática. Existindo nas populações quem quer eliminar algumas ideias, a democracia, mesmo a esses, concede a palavra, porque é o âmago do sistema democrático não cercear ninguém, mesmo que esses encontrando-se no poder retirem a palavra a quem lha concedeu. Aquela afirmação tem tanto de humildade, como do reconhecimento da dignidade de todos os homens e mulheres. Humildade no escutar outras ideias contrapostas, mesmo à democracia, e dignidade reconhecendo que a pessoa humana deve ser respeitada, desde que não defenda a sua opinião com o ódio das suas ações.

Disse que rejeitava “discurso do ódio, o discurso de insultar o outro porque é diferente, de discriminar incitar à violência e à perseguição” e prometeu uma presidência “imparcial, contida e aglutinadora”, sobre o patriotismo afirma que “o patriota só medra no combate ao nacionalismo…porque ama a sua pátria enaltece o amor dos outros pelas pátrias respetivas” enquanto o nacionalista “odeia a pátria dos outros, discrimina quem é diferente e, em vez de hospitalidade, promete ostracismo”. Garantiu que o parlamento será aberto à “palavra livre, tantas vezes incómoda, agreste e dura”. Tudo isto desde que se respeite o outro e a vontade popular exercida nas urnas.

Um discurso a reter!