Mensagem (161): Equilíbrio – II

Voltemos ao tema do equilíbrio.

O local da sua formulação é a consciência, pois é aí que a pessoa se reconhece, se decide e se encaminha: “No fundo da própria consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está a chamar ao amor do bem e fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade do seu coração” (GS 16). Segundo o Concílio, na consciência bem formada, vocatio e obligatio (chamamento ao bem e obrigação de o realizar) encontram unidade substancial, ou seja, a “obrigação de dar frutos na caridade para a vida do mundo” (OT 16). E tornam-se, de algum modo, o paradigma do verdadeiro equilíbrio.

Na conceção paulina, a santidade, que é dom de Deus, acontece quando “todo o ser –espírito, alma e corpo- se conserva irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5, 23). Ao contrário de uma mente maniqueia, Paulo destaca a harmonia intrínseca entre estes três elementos.

No seu seguimento, é de chamar a atenção para as consequências aí originadas: no espírito, a necessidade do seu nutrimento com a Palavra de Deus, a oração, a meditação, a ascese e a comunhão com a Igreja, comunidade dos santificados; na alma, a inteligência da fé, as emoções sob o influxo do Espírito Santo, a vontade para corresponder ao desígnio de Deus e a responsabilidade para com os irmãos; no corpo, o necessário cuidado ao nível da saúde e a sua interligação harmoniosa com a «casa comum» da natureza. E como a pessoa é, simultaneamente, um ser pessoal e social, o equilíbrio é chamado a tornar-se a pedra de toque de todas as dimensões organizativas, mormente na família, economia, política, sindicalismo, cultura, ensino, desporto, inovação e desenvolvimento, segurança, diplomacia, relações internacionais, etc.

Talvez porque este valor se aproxima bastante de virtudes tais como prudência, temperança ou sobriedade, a teologia e a tradição cristãs não lhe prestaram grande atenção. Não obstante, é necessário que o passem a fazer. Fundamentalmente, por dois motivos: para que não mais se identifique santidade com radicalismos pouco sóbrios, a modos de Simeão Estilita; e para não se deixar nas mãos exclusivas do Zen e do Yoga um conceito e uma atitude inerentes à noção de «vida boa» do Evangelho.

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