Por João Alves Dias
Conheci-o em 2005, em Perugia, com Assis ao longe. Surpreendeu-me a sua aparência muito jovem quando me foi apresentado como reitor do Colégio Português em Roma e professor de Liturgia na Universidade Pontifícia de S. Tomás de Aquino. Aconteceu no casamento da Annalisa, filha do meu primo Manuel Oliveira, seu colaborador na administração do Colégio.
Sabendo que eu era do Porto, abeirou-se de mim e conversámos longamente. É da diocese de Bragança mas fizera teologia no Porto. Mostrou-se particularmente interessado com a vivência da Igreja na cidade do Porto nas décadas de 60/70 do século passado. E entusiasmou-se com o espírito humanista de promoção humana que esteve na origem da ‘Obra Diocesana’.
Duma simplicidade contagiante, impressionou-me a sua capacidade de saber escutar. O que, nos dias de hoje não é frequente, como disse o papa Francisco no “Dia das Comunicações Sociais:
“Estamos a perder a capacidade de ouvir a pessoa que temos à nossa frente (…) “Escutar com o coração – A partir das páginas bíblicas aprendemos que a escuta não significa apenas uma perceção acústica, mas está essencialmente ligada à relação dialogal entre Deus e a humanidade.”
E não é por acaso que dos três pedidos que o Secretário-geral do Sínodo dos Bispos e o Prefeito da Congregação para o Clero endereçaram, no passado dia 19, aos padres de todo o mundo, os dois primeiros falem de ’escutar’: “Fazer todo o possível para que o caminho se baseie na escuta e na vivência da Palavra de Deus; trabalhar para que o caminho seja caracterizado pela mútua escuta e reciproca aceitação”.
Encontrei a mesma cordialidade da “recíproca aceitação” no, então, já bispo de Bragança quando, no Terreiro da Sé do Porto, lhe perguntei pelo acidente de carro que sofrera. Respondeu-me com aquele sorriso gaiato que lhe conhecemos: – “Ofereceram-me um carro e eu, que nunca tinha conduzido um automático, soube pô-lo a andar mas não sabia como o parar…”
Estas vivências fazem-me afirmar que as primeiras palavras que D. José Cordeiro dirigiu aos bracarenses estão carregadas de autenticidade e não são “como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine” (1Cor,13).
A comunicação social deu-lhes relevo. Logo na saudação, manifestou “a vontade de construir uma ‘Igreja em saída’ missionária e ‘uma Igreja sinodal samaritana de portas abertas para todos’. E teve palavras para os “doentes, reclusos, pobres, pessoas com deficiência, desempregados, migrantes, minorias étnicas e todos os mais velhos e mais sós que sofrem e vivem nas periferias existenciais e numa crescente globalização da indiferença”.(7Margens)
Na sua primeira homilia, na velha catedral, apelou à “proximidade fraterna” com uma afirmação cheia de coragem: “Só quem assume ser carente e pobre pode ser amigo dos pobres, reclusos, doentes, peregrinos, migrantes, refugiados, vulneráveis, indigentes e marginalizados…”(Ecclesiae)
Sirvam-lhe de exemplo os seus predecessores D. João Peculiar cuja tenacidade no diálogo muito contribuiu para a afirmação de Portugal como reino independente. E o santo D. Frei Bartolomeu dos Mártires, pobre entre os pobres e intrépido na denúncia dos poderosos.
Como judiciosamente sintetizou o meu compadre bracarense, José Machado: – “Ele é o Pastor que vem como Cordeiro”… Significativo…