
Os dicionários definem-no como o estado de um sistema, constituído por vários elementos, no qual nenhum deles invade ou aniquila o outro ou sobre ele prevalece indefinidamente. Reporta-se à estabilidade dinâmica, resultante da simetria de forças em jogo, já que a natureza das pessoas e das coisas, seres de história, é a mudança, a vitalidade e a ação. Consequentemente, a transformação. Não se trata, portanto, da disposição nivelada da balança de braços, mas de uma harmoniosa circularidade.
No equilíbrio faz-se referência a dois polos que, de algum modo, se exigem e condicionam. Não, porém, um positivo e outro negativo, já que, por exemplo, é um contrassenso falar de equilíbrio entre a justiça e o roubo. Trata-se, antes, de dois âmbitos, positivos por natureza, os quais, de acordo com as circunstâncias do tempo e lugar, reclamam a prevalência momentânea de um, mas sempre apoiado ou favorecido pelo outro. Por exemplo, o silêncio e a palavra, a solidão e a comunidade, a reflexão e a ação, a tolerância e a valentia, etc.
Neste sentido, o modelo do verdadeiro equilíbrio é Jesus Cristo. Sendo verdadeiro Deus, não é menos verdadeiro homem. E nunca qualquer destas naturezas aniquilou a outra. Por isso, conciliou a oração com a pregação, o serviço do Pai com as curas dos irmãos, a aceitação dos banquetes com as exigências do cumprimento da lei, os êxitos das aclamações das turbas com o abandono e a traição, enfim, a entrada triunfal em Jerusalém com a subida ao Calvário. Esta naturalidade, que exclui todo e qualquer dualismo, passou a ser a marca da fé cristã, não obstante o perigo de atração da filosofia grega que emprestou os conceitos culturais com os quais o cristianismo se apresentou ao mundo.
Tomado em sentido antropológico existencial, o equilíbrio não é um dado pré-concebido, mas uma específica atuação que encaminha para algo a atingir continuamente e que se espera seja atingido. Ou uma sabedoria que ajuíza quando se deve atuar e quando não e que critérios usar nessa conduta. Reclama, portanto, uma certa noção de discernimento que ilumine e conceda sentido à tensão entre o mundo interior (pensamentos, desejos, sentimentos, fobias…) e o exterior (ações, palavras, reações, omissões, etc.).
Algo a considerar neste tempo da quaresma.
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