
Inconcebível é esta invasão da Ucrânia pela Rússia, inconcebível que estejamos a iniciar mais uma época de flagelo, onde a diplomacia que conta é a das armas e não do diálogo construtivo entre as pessoas. inconcebível tanto quanto mais poderemos estar na Europa a assistir a um princípio de flagelo, onde as pessoas se odeiam umas às outras e não vão poder sarar as feridas, como as que nunca foram saradas durante as I e II guerras mundiais, os conflitos a que temos assistido locais e, mesmo, aqueles que deram boa parte da sua juventude à guerra colonial, que, diga-se, onde os portugueses foram os invasores. E neste particular cabe lembrar os sufocos sentidos pelos jovens militares ao verem-se numa guerra que não queriam e a que foram obrigados a lutar, com armas que matam. Agora passa-se o mesmo na Ucrânia, onde milhares de jovens russos são obrigados a matar, tantas vezes sem saberem o porquê e a verem os seus amigos tombarem por causas não compreensíveis, que vão contra toda a consciência humana. O que ainda não sabemos é se será ou não o princípio de um flagelo igual aos que temos memória, ou se, porventura, será uma necessidade de esvaziar os arsenais de armas sofisticadas que já não cabem em armazéns, eles também sofisticados.
Os arsenais que agora a Rússia ameaça usar de armas atómicas e outras de efeitos correspondentes, que ainda nem conhecemos, se forem efetivamente ativados, por força das perdas humanas que o invasor está a ser acometido, estaríamos perante uma gravíssima posição, dado o possível alastramento a outros países europeus e, porventura, de mais continentes, como os EUA. Teríamos um segundo dilúvio sobre este planeta, onde não restaria terra sobre terra. Isso não quer dizer que a Ucrânia não esteja já a viver um dilúvio de bombas que tudo matam, homens, mulheres e crianças, e a própria natureza. É sobre esse dilúvio que seremos capazes de exercer as forças necessárias, e que, felizmente, já são muitas, para que a Justiça e a Paz se beijem e se abracem.
Nós ainda estamos a observar, não sentimos a força das bombas, nem os tiros das armas, não sentimos nos nossos corpos as atrocidades cometidas, para além da extraordinária generosidade da ajuda que oferecemos aos refugiados desta guerra. Mas um dia poderemos sentir o desespero das valas comuns para enterrarmos os nossos corpos. Como já sentimos, como acima descrevo, com a guerra colonial. Como cristãs e cristãos nunca poderemos, contudo, deixar de participar em todos os atos que permitam proclamar a Paz e a Justiça, para os povos massacrados ucranianos e russos, debaixo da tirania exercida pelos detentores das armas, os “senhores da guerra e do dinheiro”. A reconciliação é possível, tenhamos fé em Deus, e que essa fé seja a catapulta da magnitude das nossas ações.