
Não é novidade para ninguém que o ponto crítico da participação dos fiéis na Liturgia da Missa coincide com a oração eucarística.
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
Enquanto que durante a Liturgia da Palavra a alternância de leitura/comentário, canto e oração e a sucessão de diferentes intervenções com variedade de vozes, tons, melodias e lugares, mais facilmente aguentam a atenção de todos os presentes, na Liturgia Eucarística quase sempre se nota uma quebra na qualidade e quantidade da participação. Ora, por muito que se preze a mesa da Palavra, quando nos reunimos para a Missa o mais importante acontece a seguir: à volta da mesa-Altar, em Eucaristia. A Palavra se não conduz ao Sacramento fica frustrada no seu dinamismo. E se a participação cai, talvez devamos inferir que se levantou mal ou então não é autêntica… Não se confunda «participação» com «entretenimento»! Todos os celebrantes – toda a assembleia, a começar pelo presidente – devem cuidar devidamente o essencial: a ação de graças em que se insere o memorial do Sacrifício de Cristo.
O Missal de São Paulo VI veio dar-nos uma ajuda preciosa neste ponto. Com efeito, um dos mais significativos contributos que ele trouxe à renovação da celebração Eucarística reside precisamente na abundância e qualidade dos prefácios que inclui e que permite uma ação de graças mais variada e adaptada às diferentes circunstâncias e tempos da celebração. Se as nossas celebrações continuam a ser rotineiras e precipitadas – sobretudo na Liturgia Eucarística – a culpa é cada vez mais nossa…
O «prefácio» da Missa não é um simples introito, mais ou menos acessório ao importante que vem depois… É, sim, a primeira parte da Ação de graças que explicita os motivos pelos quais a Igreja reconhece com alegria ser seu dever e sua salvação dar graças ao Pai, sempre e em toda a parte. É a explicitação desses motivos que leva ao canto entusiasmado do Santo em que o céu e a terra se associam num único coro. Nesta nota gostaríamos de chamar a atenção para a extraordinária riqueza dos prefácios da Quaresma.
Contando os dois prefácios da Paixão, que serão usados no final da Quaresma, o Missal apresenta-nos 14 (catorze!) prefácios para este tempo: seis para os domingos, incluídos no próprio tempo, com as demais orações dos respetivos formulários; oito no Ordinário da Missa e com uso mais flexível.
Dado que não estamos no Ano A do Leccionário, só dispomos de prefácios próprios para os dois primeiros domingos da Quaresma e para o sexto (Ramos). O Missal oferece também prefácios próprios para os 3º, 4º e 5º domingos mas apenas para usar no Ano A do Leccionário, ou quando se realizam os escrutínios catecumenais, com a proclamação dos Evangelhos da Samaritana, do cego de nascença e da ressurreição de Lázaro. São belíssimos trechos da Igreja em oração que encerram a “exegese litúrgica” da leitura evangélica correspondente: raramente se consegue uma tão feliz harmonia entre a Palavra e o Sacramento. A proclamação esmerada (se possível recorrendo ao canto, facilitado no novo Missal) destas joias da oração da Igreja, será de grande ajuda à participação dos fiéis.
As rubricas do Missal dão orientações para o uso mais adequado dos prefácios da Quaresma propostos no Ordinário da Missa. Alguns são mais indicados para os dias de jejum… Outros são pensados especialmente para os domingos. Quantas vezes damos tratos à imaginação e nos esgotamos esterilmente repetindo lugares comuns sobre o sentido da Quaresma e dos exercícios quaresmais. Basta lermos os títulos destes prefácios para concluir quanto eles poderão contribuir para a renovação da nossa pregação quaresmal: O significado espiritual da Quaresma (I), A penitência espiritual (II), Os frutos da abstinência (III), Os frutos do jejum (IV), O caminho do êxodo no deserto quaresmal (V), e O sacramento da Reconciliação no Espírito (VI); O poder da Cruz (I da Paixão) e A vitória da Paixão, (II da Paixão) …
No corrente ano, só há prefácio «próprio», de uso obrigatório, nos 3 domingos referidos e nas solenidades deste tempo litúrgico. Nos demais dias da Quaresma, para além dos prefácios «do tempo» podem sempre usar-se orações eucarísticas com prefácio próprio (oração eucarística II e IV, Orações Eucarísticas da reconciliação I e II). E quando, nos termos da IGMR 374, se celebrar alguma Missa por alguma necessidade particular ou utilidade pastoral, também se pode usar a Oração Eucarística para as Missas para diversas necessidades (antiga V) com os respetivos prefácios.
O novo Missal só por si nada mudará, sem uma conversão dos hábitos e das mentalidades dos celebrantes. Também aqui, esperamos, a Quaresma pode ser tempo de conversão.