
Por Joaquim Armindo
Um país pobre como Portugal é, porém, rico em solidariedade. Ricos e pobres, mais estes que aqueles se unem em solidariedade com o povo ucraniano. Por todo este Portugal camiões saem carregados de bens alimentares e de medicamentos, assim como sacos-cama e outros utensílios para os mais de um milhão de ucranianos fugidos de uma guerra que nunca quiseram. É impressionante como desde juntas de freguesia, coletividades ou comunidades paroquiais se mobilizam espontaneamente para acorrer àqueles que não conhecem, mas sabem ser necessário acorrer. Jovens ou adultos todos em união, que não se conhecem de lado nenhum, juntam as mãos para o povo mártir da Ucrânia e fazem o que podem, mesmo sem terem de o fazer, para que um povo que quer a liberdade de ser nação o seja; independentemente disso sabem quem está a sofrer e de algum modo dão, sem ninguém lhes solicitar nada. A Rússia atacou a Ucrânia, não foi o povo russo, mas os seus dirigentes, pelo que aqui em Portugal também as comunidades russas unidas pela mesmo sentido solidário juntam-se e enviam ao povo ucraniano as suas – tantas vezes parcas -, economias.
Tantos gestos solidários, que não vão mudar o rumo duma guerra fratricida, se vêm em Portugal por todo este país de poetas e marinheiros, que compreendem que na Ucrânia invadida já não se pode cantar, a lembrar o povo judaico aquando do seu cativeiro na Babilónia, que pousaram as harpas, mesmo que os invasores do seu país lhes tenham pedido para cantarem as suas tradições. E lhes pediam, mas como era possível cantar se a vida do povo tenha sido violentamente subjugada, por isso mesmo o seu ânimo era os dos prisioneiros que vão para outro país, que os invadiu, e lhes propunha outra vida que não era a do louvor a Deus. “Nos salgueiros daquela terra, pendurávamos, então, as nossas harpas,”Salmo 137:2.
Povos invadidos que, porém, não perdem a esperança de ter as suas tradições e as suas terras. Mas isso deu alento aos portugueses, e não é de agora, – lembremo-nos de Timor – Leste -, que além de dar o que tantas vezes lhes faz falta, até ambulâncias seguiram!, o fazem com o respeito de um povo atacado pelas autoridades de outro povo e que coloca os seus jovens em guerras que podem degenerar outros confrontos imprevisíveis. A solidariedade para o povo português não é palavra vã, não conhecem o povo ucraniano, mas sabem que a sua causa é a mesma que levaram tantos portugueses e portuguesas a lutar pela independência da sua terra.
Por tudo isto é orgulhoso ser português e ver este povo levantar-se, como os dedos da mão, numa voz uníssona, que não conhece outras divisões de partidos ou religiões e dizer-lhes obrigado, por mais esta lição.